terça-feira, 11 de março de 2014

Graça que opera em nós


[Santo Agostinho]

Considerando também a vontade, que nos leva a crer e se atribui ao dom de Deus, porque nasce da liberdade e a recebemos na criação, reflita e perceba o contraditor que não somente se deve atribuir esta vontade à graça divina, porque procede da liberdade inserida em nós pela natureza desde a criação, mas também porque Deus age mediante meios suasórios visíveis para nos levar a querer e a crer. Esta atuação divina pode se dar ou exteriormente por meio de exortações evangélicas, com alguma influência dos preceitos da lei, se levam o homem à consciência de sua fragilidade e a se refugiar pela fé na graça que justifica, ou interiormente, onde ninguém pode provocar nenhum pensamento, mas é iniciativa da vontade consentir ou dissentir. Portanto, quando Deus concorre com a alma racional mediante estes meios – e ninguém pode crer em algo apenas com o uso da liberdade sem a influência de uma persuasão ou chamado em relação em quem deve crer -, não há dúvida de que ele opera no homem o próprio querer e sua misericórdia nos precede em tudo. Mas o consentimento ou o dissentimento ao chamado de Deus, conforme já afirmei, é obra da vontade própria. Esse ensinamento não somente desvaloriza o que está escrito: Que é que possuis que não tenhas recebido?, mas o confirma. Pois a alma não tem capacidade de receber e conservar os dons, aos quais se refere a sentença, a não ser consentindo. Por isso, o que tem e o que recebe vem de Deus, mas o receber e o conservar dependem de quem recebe e possui.”

Santo Agostinho, in FERREIRA, Franklin. Agostinho de A a Z. São Paulo: Editora Vida, 2006. Série Pensadores Cristãos.

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