segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Três estímulos para aqueles que amam a Bíblia

Trechos extraídos do livro "Pense", de John Piper, distribuído pela Editora Fiel, publicados no Blog Fiel. 

1. Não coloque o Espírito contra o estudo aplicado da Escritura

“[...] Paulo disse a Timóteo: “Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as coisas” (2 Tm 2.7). A ordem era que ele pensasse, considerasse, usasse a mente para tentar entender o que Paulo estava dizendo. E a razão que Paulo apresenta para a ordem de pensar é esta: “Porque o Senhor te dará compreensão”. Paulo não coloca essas coisas em tensão: pensar, por um lado, e receber de Deus o dom de entendimento, por outro lado. Essas duas coisas andam juntas. Pensar é essencial para chegarmos ao entendimento. Mas o entendimento é um dom de Deus.

2. A alegria está no outro lado do trabalho árduo

“[...] A pessoa que não aceita a dor e a frustração permanecerá em baixos níveis de realização e gozo. Por exemplo, aprender a dirigir um carro é algo cheio de tensão. [...] Mas, se você desistir, perderá as alegrias de dirigir onde lhe agrada e de ser capaz de realizar uma conversa enquanto dirige, o que ocorre somente quando o dirigir já se tornou algo natural.
[...] A alegria está no outro lado do trabalho árduo. Esse é um elemento básico de todo crescimento. Parte da maturidade está em compreender o princípio da satisfação protelada. Se você não pode aceitar o sofrimento do aprendizado e quer satisfação imediata, você perde as maiores recompensas da vida.


Isso também se aplica à leitura da Bíblia. As maiores riquezas são para aqueles que trabalham com empenho para entender tudo que ela contém. Na Bíblia, há centenas de conexões e significados que não saltam da página na primeira leitura – pelo menos, não para mim. Tenho de ler devagar e começar a fazer perguntas sobre as palavras e as conexões. Ou seja, pensar tem de se tornar intencional.
[...]
Mas já compreendemos que nossa habilidade de leitura – nossa habilidade de pensar – que nos serve tão bem na maior parte de nosso tempo, não vê tudo que a Bíblia tem a dizer. Chega o momento em que decidimos ser intencionais em nosso pensar, para crescermos no que vemos e entendemos. Se não escolhemos pensar com empenho, aceitaremos um nível de entendimento de adolescente pelo resto de nossa vida.”

3. Fazer perguntas é a chave para o entendimento

Quando falo a respeito de tornar-se intencional em pensar com empenho, isto é principalmente o que estou querendo dizer: fazer perguntas e labutar com nossa mente para respondê-las. Portanto, aprender a pensar frutiferamente nos textos bíblicos implica em que temos de formar o hábito de fazer perguntas. Os tipos de perguntas que você pode fazer ao texto são quase intermináveis.
  • Por que ele usou essa palavra?
  • Por que ele a usou aqui e não lá?
  • Como ele a usa em outras passagens?
  • De que maneira essa palavra difere desta outra que ele poderia ter usado?
  • Como a combinação destas palavras afeta o significado dessa palavra? [...]

Fonte: http://www.blogfiel.com.br



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Reinventando a dimensão educacional do culto


Se a educação cristã não se restringe nem à Escola Dominical, nem às aulas tradicionais, se a educação cristã é a formação do povo de Deus para a vida e a missão, se a educação cristã é ferramenta do Espírito para a renovação da igreja, podemos nos indagar em termos mais práticos e estruturais: que alternativas concretas se apresentam para a nossa prática educacional global, enquanto igrejas cristãs, no início deste novo século e milênio?

Reinventando a dimensão educacional do culto

Enquanto a ênfase na educação cristã regredia, crescia exponencialmente a valorização do culto e da música na igreja local. Na década de 1990, e nesses primeiros anos do século XXI, presenciamos grandes avanços na música e na liturgia das igrejas evangélicas, também acompanhados de limites e graves problemas.

Refletindo de forma esquemática sobre os pontos positivos dessas mudanças, talvez possamos destacar: o corpo dos cristãos passou a fazer parte viva dos cultos - palmas, movimento, dança, coreografia se tornaram comuns em muitas igrejas, ritmos, melodias, letras brasileiras foram incorporados aos cultos, o ministério de adoração passou a ser enfatizado, e muitos jovens se envolveram com a música e o louvor na igreja; emoções que anteriormente tinham pouco lugar no culto passaram a ocupar lugar central – alegria, exaltação, autoafirmação.

Sem desmerecer nenhum desses avanços, é preciso, porém, enumerar alguns aspectos negativos adotados na prática litúrgica “típica” em igrejas evangélicas: 1) a lógica litúrgica se tornou demasiado simples (ou, por que não dizer simplista?), reduzindo-se os cultos a músicas em sequência e sermão; 2) há uma ênfase demasiada sobre o desempenho musical, em detrimento da maturidade espiritual e emocional dos grupos de louvor; 3) a escolha de canções para o culto depende, em demasia, de critérios mercadológicos e midiáticos – o CD que “vende mais”, a canção que mais toca nas rádios, a cantora ou cantor “mais famoso”; 4) o baixo nível de formação e reflexão teológica da maior parte dos novos “levitas” e dirigentes de louvor, acompanhado de relações conflitivas com pastores e pastoras.

Em um livro sobre educação cristã, você pode se perguntar, por que tais considerações sobre culto e liturgia? Porque o culto é uma das estruturas mais importantes da educação cristã na igreja local? Não! Não se preocupe, não vou propor que os cultos voltem a ser “chatos”, “antiquados”, seguindo as regras da liturgia européia. O culto é, primariamente, encontro de adoração a Deus, de celebração de seus atos em nosso favor e em favor do mundo por ele criado, encontro de gratidão, testemunho e preparação para voltar a viver, no tempo secular, a fé e a missão. E é exatamente como culto que ele desepenha papel fundamental na formação cristã integral. Não precisamos transformar o culto em “aula” para que ele seja educador. Entretanto, precisamos trabalhar para que se torne presente a função educacional do culto, para que seu caráter pedagógico seja valorizado. Senão, como haver uma educação transformadora na igreja?

Algo que tem sido bastante esquecido é que existe uma lógica litúrgica que dá sentido ao culto. Essa lógica deve ser fundamental para a sua estrutura. Ou seja: ao preparar o culto, dê asas à criatividade, mas asas que nos levem ao encontro do Senhor, e não às nuvens vazias. A lógica litúrgica se compõe de: entrada na presença de Deus (separando o tempo “secular” do tempo “sagrado”), exaltação de Deus (que se dispõe a nos receber em sua presença), confissão de pecado (pois não se pode entrar na presença de Deus sem o reconhecimento de nossa pecaminosidade), gratidão a Deus pelo seu perdão e sua ação em nosso benefício (que pode incluir testemunho e até mesmo batismo), reconhecimento da comunidade e da comunhão cristãs (com ou sem a eucaristia), exposição da palavra de Deus (através de sermão, ou não), compromisso com o Deus da palavra, envio da igreja à missão no mundo. Essa lógica é, em si, educadora. Quando o culto se reduz apenas a uma sequência de cânticos e um sermão, ensina muito pouco – e ensina mal: que a vida cristã é apenas felicidade, busca de bênçãos e comunhão entre irmãos. Já a lógica litúrgica ensina que a vida cristã nasce, cresce e se concretiza em nossa submissão a Deus, em nossa vida entregue ao seu Filho, em nossa dependência do Espírito. A forma do culto pode e deve variar, com criatividade, mas precisa sempre ser fiel à lógica litúrgica! Quando a abandonamos, o culto passa a impressão de “liberdade no Espírito” mas, na prática, não passa de um tradicionalismo repetitivo – pura celebração da mesmice.

Aliada à lógica litúrgica praticada de forma contextual e criativa, o culto precisa de conteúdo bíblico e teológico de qualidade. Hoje, a “teologia” do povo de Deus é, primariamente, a teologia cantada e não a ouvida e lida. Escolher cuidadosamente as músicas, não em função de ritmo, mas em função da mensagem bíblica e teológica que transmitem, é fundamental. Nesse sentido, precisamos de uma revolução prática nas igrejas. Dirigentes de louvor, musicistas, “levitas”, seja como for que chamemos as pessoas que participam na elaboração e direção dos cultos, precisam conhecer profundamente a Escritura e a teologia cristã – tanto quanto os pastores e as pastoras! Entregar a escolha das músicas a serem cantadas no culto a quem não conhece (ou conhece pouco, ou, pior, conhece mal) a Bíblia e teologia provoca deseducação do povo de Deus. Alguns critérios simples: as letras precisam falar muito mais de Deus do que de “eu”, de “mim”, de “meu”... As letras precisam valorizar os alvos da vida eclesial: discernimento, missão, humanização, cidadania etc. As letras não podem ser antropocêntricas nem cardiocêntricas (só voltadas para as emoções). Que desafio! Há muito trabalho a ser feito nessa área.

Outro aspecto indispensável é que o lamento faça parte de nossos cultos. O lamento, no sentido bíblico, é composto de súplica, confissão e intercessão. Lamentar a Deus significa que reconhecemos nossa pecaminosidade, compreendemos que ele responde à oração, percebemos nosso compromisso missionário e oramos pelo mundo amado por Deus – e não só por nós mesmos. O lamento é o momento litúrgico do clamor: clamar a Deus por perdão e crescimento espiritual, clamar a Deus por crescimento e desenvolvimento da igreja, clamar a Deus pelo mundo sem Cristo. No lamento, especialmente na intercessão, nós nos identificamos solidária e compassivamente com a humanidade pecadora e reconhecemos que nossa salvação nos coloca na condição de missionários e embaixadores de Jesus Cristo no mundo. Releia e reflita cuidadosamente sobre Colossenses 3.14-17 e o papel educacional do culto.

Para finalizar, um destaque: o culto deve sempre orientar o povo de Deus para a ação missionária no mundo. O culto não pode ser egocêntrico, egoísta, voltado para dentro de nós mesmos. Se for assim, será doentio – acúmulo de bênçãos provoca doenças espirituais terríveis. A bênção de Deus deve ser repartida, ou se transformará em maldição.

(Trecho extraído de  ZABATIERO, Júlio. Novos caminhos para a educação cristã. São Paulo : Hagnos, 2009)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Interpretação das Escrituras


Orígenes1, no seu quarto livro, De Principiis, dá-nos algumas sugestões valiosas sobre como interpretar as Escrituras. Segundo Orígenes, as Escrituras são semelhantes ao complexo humano, tendo diversos níveis de significados possíveis.

O corpo físico
Como o homem tem um corpo mortal, material, assim as Escrituras, às vezes, devem ser interpretadas literalmente.

A alma
Como o homem tem uma alma, assim as Escrituras, às vezes, devem ser interpretadas moralmente. Isto é, lições morais podem ser extraídas de passagens que, entendidas literalmente, não tem significado para nós. Por exemplo, aquelas passagens que descrevem matanças e brutalidades dificilmente nos podem ensinar alguma coisa sobre a espiritualidade. Na verdade, são repugnantes para nós. Até mesmo nesses casos, podemos extrair lições morais importantes.

O espírito
O homem é um espírito; assim as Escrituras, às vezes, devem ser interpretadas espiritualmente, ou misticamente, através de metáforas. Dessa maneira, verdades podem ser obtidas além do literal ou moral.

Algumas passagens admitem os três modos de interpretação, mas outras são limitadas a um ou dois. Segundo Orígenes, a forma como lemos as Escrituras Sagradas indica o nosso estágio de amadurecimento espiritual e nossa capacidade intelectual.

A verdade como uma aventura

Enquanto algumas verdades são dadas livremente através da revelação e podem ser entendidas facilmente, outras, com frequência, exigem trabalho árduo para que sejam compreendidas. A verdade pode ser como uma mina de ouro que precisa ser trabalhada. O homem que se esforça em descobrir a verdade é aquele que recebe a recompensa dos tesouros de sabedoria e conhecimento. A verdade é uma aventura. Não devemos ter medo de nos aventurar, porque esta aventura é gloriosa. Não devemos permitir que os dogmas impeçam a nossa busca.

1 Orígenes de Alexandria (185-254), é considerado, juntamente com Santo Agostinho, o maior gênio do cristianismo antigo. É um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo (vide http://www.filosofia.com.br)


Fonte: CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Volume 1. São Paulo: Hagnos, 2ª ed, 2001.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Entendes tu o que lês?


"[...] E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus" (Atos 8:30-35)



Filipe faz uma pergunta justa: Entendes tu o que lês? (v.30). Não para repreender, mas com a intenção de lhe servir. Note que o que lemos e ouvimos da palavra de Deus é para que a entendamos, sobretudo o que lemos e ouvimos em relação a Jesus. Devemos nos perguntar se entendemos ou não o que lemos: Entendestes todas estas coisas? (Mt 13.51). Entendestes todas estas coisas corretamente? Não podemos nos beneficiar com as Escrituras a menos que as entendamos em certa medida (1 Co 14.16,17). E, abençoadas por Deus, o que é necessário para a salvação é fácil de ser entendido.

O eunuco, sentindo necessidade de ajuda, deseja a companhia de Filipe: “Como poderei entender, diz ele, se alguém não me ensinar? (v.31). Sobe e senta-te comigo”.

(1) O eunuco fala como alguém que tivesse opinião desfavorável sobre si mesmo e duvidasse da própria capacidade e conhecimento. Ele estava muito longe de considerar afronta alguém lhe perguntar se ele entendia o que lia, embora Filipe fosse um estranho, estivesse a pé e, provavelmente, parecesse pobre e humilde (por muito menos outra pessoa teria dito que ele era impertinente, que cuidasse de sua própria vida e que ele não era ninguém para dizer isso). Ele trata a pergunta com amabilidade e dá uma resposta bastante humilde: “Como poderei...?” Temos motivo para pensar que ele era inteligente e bastante familiarizado com o significado das Escrituras, como a maioria, mas mesmo assim confessa humildemente sua deficiência. Note que para aprender tem de haver alguém que ensine. O profeta tem de, primeiramente, reconhecer que não sabe o que é isto para que, então, o anjo lhe diga (Zc 4.13).

(2) O eunuco fala como alguém que possui muito desejo de aprender, de ter alguém que o oriente. Note que ele lia as Escrituras, embora houvesse muitas coisas nela que ele não entendesse. Mesmo que haja na Bíblia muitos pontos difíceis de entender (2 Pe 3.16) e muitos outros sejam interpretados erroneamente, não devemos desistir. Temos de estudar os pontos difíceis por causa dos pontos fáceis, pois este é o modo mais provável de, pouco a pouco, virmos a entender os pontos difíceis: o conhecimento e a graça aumentam gradualmente.

(3) O eunuco convidou Filipe para que subisse e com ele se assentasse (v.31). Não como Jeú, que convidou Jonadabe para acompanhá-lo no carro e ver o zelo que ele tinha para com o Senhor (2 Re 10.16), mas: “Vem ver a minha ignorância, e instrui-me”. Ele alegremente honrará Filipe, levando-o no carro, se Filipe lhe fizer o favor de lhe expor um trecho das Escrituras. Note que para entendermos corretamente as Escrituras precisamos de orientação: alguns livros bons e alguns homens bons, mas, acima de tudo, o Espírito da graça, para nos guiar a toda a verdade.

O trecho das Escrituras que o eunuco recitou e algumas indicações de Filipe a esse respeito

Os pregadores do Evangelho tinham um pretexto muito bom para prender os que estavam familiarizados com as Escrituras do Antigo Testamento e as recebiam, sobretudo, quando se achavam empenhados em estudá-las, como este eunuco.

O capítulo que o eunuco estava lendo era Isaías 53. Aqui são citados dois versos: partes dos versículos 7 e 8. Eles (vv. 32,33) estão registrados de acordo com a versão da Septuaginta, a qual em certos pontos difere do original hebraico. Grotius opina que o eunuco leu o texto em hebraico, mas Lucas segue a tradução da Septuaginta, por estar mais fluente à língua na qual ele escrevia. Ele supõe que o eunuco aprendera a religião e a língua hebraica dos muitos judeus que moravam na Etiópia. Mas, considerando que a versão da Septuaginta foi elaborada no Egito, país adjacente à Etiópia, e que se situava entre este e Jerusalém, prefiro pensar que a tradução lhe era muito conhecida. O texto de Isaías 20.4 dá a entender que as relações entre essas duas nações - Egito e Etiópia – eram bastantes extensas. A maior variação do hebraico é a que está no original: “Ele foi tirado da prisão e do julgamento” ([Is 53.8, LXX] quer dizer, ele foi levado com extrema violência e precipitação de um tribunal a outro; ou: Da opressão e do juízo foi tirado [Is 53.8, versão RC], quer dizer, ele foi tirado da fúria do povo e seus clamores ininterruptos, e do julgamento de Pilatos após), aqui está escrito: Na sua humilhação, foi tirado o seu julgamento (v.33). Ele parecia tão vil e desprezível aos olhos das pessoas que elas lhe negaram a justiça comum. Indo contra todas as regras da imparcialidade, cujo benefício todo indivíduo tem direito, mesmo tendo-o declarado inocente, os homens o condenaram à morte. Assim, na sua humilhação, foi tirado o seu julgamento. Vemos, então, que o sentido é muito semelhante ao do hebraico. Portanto, este versículos são predições relativas ao Messias.

(1) O Messias morreria, seria levado [..] para o matadouro (v.32), como as ovelhas eram oferecidas em sacrifício – que sua vida seria tirada dentre os homens, tirada da terra. Com que pequena razão foi a morte de Cristo uma pedra de tropeço para os judeus incrédulos, visto que foi predita de forma tão clara pelos seus próprios profetas e era tão necessária para a realização do seu empreendimento! Logo, o escândalo da cruz está aniquilado (Gl 5.11).

(2) O Messias morreria injustamente, morreria por violência, seria arrancado de sua vida, pois o seu julgamento seria tirado (v.33). Não lhe seria feito justiça, porque Ele deveria ser tirado e não seria mais (Dn 9.26).

(3) O Messias morreria pacientemente. Como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia (v.32), não somente diante do tosquiador, mas diante do açougueiro também, assim não abriu a sua boca. Nunca haverá tal exemplo de paciência como o nosso Senhor teve em seus sofrimentos. Quando Ele foi acusado, quando foi maltratado, ficou calado, quando o injuriavam e, quando padecia, não ameaçava (1 Pe 2.23).

(4) O Messias, apesar disso, viveria para sempre, por séculos que não poderiam ser numerados. É como entendo essas palavras: Quem contará a sua geração? (v.33). A palavra hebraica significa, corretamente, “a duração de uma vida” (Ec 1.4). Não obstante, quem pode conceber ou expressar quanto tempo Ele permanecerá? Porque a sua vida é tirada somente da terra. No céu, Ele viverá pelos séculos infinitos e inumeráveis, como consta em Is 53.10: Ele prolongará os seus dias.

A pergunta do eunuco sobre estas Escrituras é: De quem diz isto o profeta? (v.4). Ele não deseja que Filipe lhe faça alguns comentários criteriosos sobre as palavras, frases e expressões idiomáticas da língua, mas que o inteire da extensão e desígnio geral da profecia, que lhe dê uma chave, no uso da qual ele possa, comparando uma coisa com a outra, ser conduzido ao significado da passagem em particular. No geral, as profecias tinham em si algo de ambiguidade, até serem explicadas pelo seu cumprimento, como ocorre com esta. Tratava-se de uma pergunta muito importante e muito sensata: “O profeta […] diz […] de si mesmo ou de algum outro, na perspectiva de ser usado, de ser maltratado, como foram os outros profetas? Ou ele fala de algum outro de sua própria época, ou de alguma época vindoura?”.Embora os judeus modernos não admitam que isto se refira ao Messias, os seus antigos doutores assim o interpretavam. Talvez o eunuco soubesse disso e em parte entendesse o texto assim, servindo-se desta pergunta apenas para ocasionar a conversa com Filipe, pois o modo de melhorar o aprendizado é consultar os instruídos. Como eles têm de buscar a lei da boca do sacerdote (Ml 2.7), assim eles têm de investigar o evangelho da boca dos ministros de Jesus (Filipe, abrindo a boca, v.35), sobretudo aquela parte do tesouro que está escondido no campo do Antigo Testamento. O modo de receber boas instruções é fazer boas perguntas.

Filipe aproveita esta excelente oportunidade para abrir ao eunuco o grande mistério do evangelho relativo a Jesus Cristo e este crucificado (1 Co 2.2). Ele começou nesta Escritura (v.35), tomando-a por seu texto (como fez Jesus em outra passagem da mesma profecia, Lc 4.21), e lhe anunciou a Jesus. Esta é a narrativa total que temos do sermão de Filipe, porque na verdade era igual aos sermões de Pedro que já temos. O trabalho dos ministros do evangelho é anunciar a Jesus, e esta é a pregação mais provável de ser bem sucedida. É provável que agora Filipe tivesse oportunidade de usar o seu dom de línguas para pregar Jesus a este etíope no idioma de seu próprio país. Aqui temos um exemplo de falar das coisas de Deus, falando delas utilmente, não apenas quando nos assentamos em casa, m as também quando andamos pelo caminho, de acordo com a regra deuteronômica (Dt 6.7).

(extraído de HENRY, Mattew. Comentário Bíblico Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, 1ªed.)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cristianismo: a religião mais fácil e a mais difícil

O grande apologeta cristão do século passado, Francis Schaeffer, explica com uma clareza extraordinária em seu livro O Deus que intervém porque o Cristianismo é a religião mais fácil e ao mesmo tempo a mais difícil:

Temos de reconhecer que o Cristianismo é a religião mais fácil de todo o mundo, pois é a única religião na qual Deus o Pai, Cristo e o Espírito Santo fazem tudo. Deus é o Criador; nós não temos qualquer coisa a fazer com a nossa existência, nem a existência das outras coisas. Podemos até moldar as outras coisas, mas não podemos mudar o fato da existência. Não fazemos qualquer coisa para a nossa salvação porque Cristo já fez tudo. Não temos o que fazer. Em todas as outras religiões temos que fazer algo — tudo, desde queimar incenso para sacrificar nosso filho primogênito até jogar uma moeda na fonte de sorte — todo um espectro de coisas. Mas com o Cristianismo não temos que fazer qualquer coisa; Deus fez tudo isto: ele nos criou e enviou o seu Filho; seu Filho morreu e, porque o Filho é infinito, por esta razão ele carrega toda a nossa culpa. Não precisamos carregar a nossa culpa, nem precisamos merecer o mérito de Cristo. Ele fez tudo isso. Assim, de certa forma, é a religião mais fácil do mundo.

Mas podemos dizer igualmente o contrário, de que é a religião mais difícil do mundo, pela mesma razão. O coração da rebelião de Satanás e do homem estava no desejo de ser autônomo; e aceitar a fé cristã não nos rouba nossa existência, não nos rouba nosso valor (isso nos dá valor), mas isso nos rouba completamente a nossa autonomia. Não nos fizemos a nós mesmos, não somos produto do acaso, não somos nada disso; estamos diante de um Criador e mais nada, estamos diante do Salvador e mais nada — trata-se de uma negação completa de ser autônomo. Não importa se é consciente ou inconsciente (e nas pessoas mais brilhantes isso é, por vezes, consciente): quando reconhecem a suficiência das respostas no seu próprio nível, elas repentinamente se levantam contra a sua humanidade mais íntima — não humanidade como foram criados para serem, mas humanidade no mau sentido, pela queda. Esta é a razão pela qual as pessoas não aceitam as respostas suficientes e porque elas são consideradas por Deus desobedientes e culpados quando não se curvam a isso
.” (p. 255-256, grifo nosso)

SCHAEFFER, Francis A. O Deus que intervém. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2002. p. 255-256.


Fonte: extraído de bereianos.blogspot.com.br


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O perigo da paternidade moralista



por Elyse Fitzpatrick

Se a maioria das nossas crianças está deixando a fé assim que pode, algo terrivelmente errado tem acontecido.
Certamente a fé que tem fortalecido a igreja perseguida por dois milênios não é tão estreita e tediosa quanto “Peça desculpas”, “Seja legal” e “Não haja como eles.” Porque alguém negaria a si mesmo, renunciaria sua vida, ou sofreria por algo tão fútil quanto isso? Fora aquela parte do “peça para Jesus entrar em seu coração”, como essa mensagem difere de algo que qualquer criança sem igreja ou um jovem judeu poderia ouvir todo dia?

FAZENDO DE DEUS UM PAPAI NOEL

Encaremos isso: a maioria das nossas crianças acredita que Deus está feliz se elas são “boas pelo amor de Deus”. Nós transformamos o santo, terrível, magnificente e amoroso Deus da Bíblia em Papai Noel e seus gnomos. E ao invés de transmitir a gloriosa verdade libertadora e transformadora de vidas do evangelho, nós temos ensinados nossos filhos que ser bom (pelo menos exteriormente) é conteúdo e o objetivo de tudo da fé deles.
Isso não é o evangelho;  não estamos apenas deixando o cristianismo de herança para eles. Nós precisamos de menos dos Veggie Talles (N.T. “Vegetais” no Brasil) e do Barney e de mais toneladas da radical, sangrenta, escandalosa mensagem do Deus-homem esmagado por seu Pai por nossos pecados.
Essa outra coisa que estamos dando a nossos filhos tem um nome – é chamada “moralismo”. Aqui está como um professor de seminário descreveu essa experiência infantil na igreja:
Os pregadores que eu normalmente ouvia… na igreja em que fui criado, tendiam a interpretar e pregar a Escritura sem Cristo como o foco central. Personagens como Abraão e Paulo eram recomendados como modelos de fé sincera e de obediência leal… Por outro lado, homens como Adão e Judas eram criticados como a antítese do comportamento moral apropriado. Portanto a Escritura se tornou nada menos do que um livro de lições morais de vida cristã, seja ela boa ou ruim.

ENSINANDO BOAS MANEIRAS AO INVÉS DA SALVAÇÃO

Quando nós mudamos a história da Bíblia do evangelho da graça para um livro de lições moralistas como “As fábulas de Esopo”, tudo dá errado. Crianças incrédulas são encorajadas a mostrar o fruto do Santo Espírito mesmo que elas estejam espiritualmente mortas em seus delitos e pecados (Efésios 2.1). Crianças não arrependidas são ensinadas a dizer que sentem muito e pedir por perdão mesmo que elas nunca tenham provado a verdadeira tristeza segundo Deus. Para crianças não regeneradas é dito que elas estão agradando a Deus porque elas têm alcançado alguma “vitória moral”.
Boas maneiras têm sido elevadas ao nível de justiça cristã. Pais disciplinam seus filhos até que eles evidenciem uma forma prescrita de contrição, e outros trabalham pesado para guardar seus filhos da maldade no mundo, presumindo que a maldade dentro de seus filhos foi tratada por que eles oraram alguma vez uma oração no Clube Bíblico.

A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO DE CONTOS DE FADAS

Se nossos “compromissos de fé” não se enraizaram em nossas crianças, pode ser por isso que elas constantemente não os têm ouvido? Ao invés do evangelho da graça, temos dados a eles banhos diários no ‘mar do narcisismo moralista’, e elas respondem a lei do mesmo modo que nós: correm para a primeira saída que encontrarem.
A paternidade moralista ocorre porque a maioria de nós tem uma visão errada da Bíblia. A história da Bíblia não é a história sobre fazer garotinhos e garotinhas melhores. Conforme Sally Lloyd-Jones escreveu em The Jesus Storybook Bible:
Não, a Bíblia não é um livro de regras, ou um livro de heróis. A Bíblia é mais do que tudo uma História. É uma história de aventura sobre um jovem Herói, que vem de um país distante para ganhar de volta o seu tesouro perdido. É uma história de amor sobre um Príncipe valente, que deixa seu palácio, seu trono – tudo – para resgatar aquela que ele ama. É como o mais maravilhoso conto de fadas que se tornou verdadeiro na vida real.
É essa história que nossos filhos precisam ouvir e, como nós, eles precisam ouvi-la de novo e de novo.
Adaptado do livro Give them Grace por Elyse Fitzpatrick e Jessica Thompson, 2011.
Fonte: www.iprodigo.com

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Redescobrindo o verdadeiro Evangelho

Por J.I.Packer

Não há dúvida que o mundo evangélico de nossos dias encontra-se em um estado de perplexidade e flutuação. Em questões como a prática do evangelismo, o ensino sobre a santidade, a edificação da vida das igrejas locais, a maneira dos pastores tratarem com as almas e exercerem a disciplina. Há evidências de uma insatisfação generalizada com as coisas conforme elas estão, bem como de uma ampla incerteza acerca do caminho à frente. Esse fenômeno é complexo, para o qual muitos fatores têm contribuído. Porém, se descermos à raiz da questão, descobriremos que essas perplexidades, em última análise, devem-se ao fato que temos perdido nossa compreensão do evangelho bíblico. Sem o percebermos, durante os últimos cem anos temos trocado o evangelho por outro que, embora lhe seja semelhante quanto a determinados pormenores, trata-se de algo inteiramente diferente. Daí surgem as nossas dificuldades; pois o outro evangelho não corresponde às finalidades para os quais o evangelho autêntico, no passado, mostrou-se tão poderoso. O novo evangelho fracassa notavelmente e produzir reverência profunda, arrependimento sincero, verdadeira humildade, espírito de adoração e interesse pela igreja. Por quê?

Sugerimos que a razão jaz no próprio caráter e conteúdo deste novo evangelho, o qual não leva os homens a terem pensamentos centrados em Deus, temendo-o em seus corações, mesmo porque, primariamente, não é isso que o novo evangelho procura fazer. Uma das maneiras de declararmos a diferença entre o novo e o antigo evangelho é afirmar que o novo está demasiadamente preocupado em “ajudar” o homem a produzir em si mesmo paz, consolo, felicidade e satisfação, e pouco preocupado em glorificar a Deus.

O antigo evangelho também prestava “ajuda”; de fato, até mais do que o novo. Mas fazia-o apenas incidentalmente, visto que glorificar a Deus sempre foi sua preocupação primária. Era sempre e essencialmente uma proclamação da soberania divina demonstrada em misericórdia e juízo, uma convocação para os homens prostrarem-se e adorarem o Todo-poderoso Senhor de quem eles dependem quanto a todo bem, tanto no âmbito da natureza quanto no âmbito da graça. Sem qualquer ambiguidade, o centro de referência do antigo evangelho era Deus. Porém, no novo evangelho o centro de referência é o homem. Isso é a mesma coisa que dizer que o antigo evangelho era religioso de uma maneira que o novo evangelho não o é. Enquanto que o alvo principal do antigo evangelho era ensinar o homem a adorarem a Deus, a preocupação do novo parece limitar-se a fazer os homens sentirem-se melhor. O assunto do antigo evangelho era Deus e os seus caminhos com os homens; o assunto do novo é o homem e a ajuda que Deus dá. Nisso há uma grande diferença. A perspectiva e a ênfase da pregação do evangelho foram completamente alteradas.

Dessa mudança de interesses originou-se a mudança de conteúdo, pois o novo evangelho na realidade reformulou a mensagem bíblica no suposto interesse de prestar “ajuda” ao homem. De acordo com isso, não são mais pregadas verdades bíblicas tais como a incapacidade natural do homem em crer, a eleição divina e gratuita como a causa final da salvação e a morte de Cristo especificamente pelas Suas ovelhas. Essas doutrinas, segundo o novo evangelho, não “ajudam” o homem, antes, contribuem para levar os pecadores ao desespero, sugerindo-lhes que eles não têm o poder de salvar a si mesmos, através de Cristo. (Nem é considerada a possibilidade desse desespero ser salutar, pelo contrário, visto que destroçaria a nossa autoestima). Sem importar a exatamente como seja a questão, o resultado dessas omissões é que apenas uma parcela do evangelho bíblico está sendo pregada como se fosse a totalidade do mesmo; e uma meia-verdade que se mascara como se fosse a verdade inteira torna-se uma mentira completa. Assim, apelamos aos homens como se eles todos tivessem a capacidade de receber Cristo a qualquer momento. Falamos sobre a obra remidora efetuada por Cristo como se Ele tivesse apenas morrido para capacitar-nos a salvar a nós mesmos, mediante o nosso crer. Falamos sobre o amor de Deus como se isso não fosse mais do que a disposição geral de receber qualquer um que queira voltar-se para Deus e confiar nele. Retratamos o Pai e o Filho não como soberanamente ativos em atrair os pecadores a si mesmos, mas como se eles se mantivessem em quieta incapacidade, “a porta do nosso coração”, esperando nossa permissão para entrar.

É inegável que é dessa maneira que estamos pregando; talvez seja assim que de fato cremos. Porém, cumpre-nos dizer enfaticamente que esse conjunto de meias verdades distorcidas é algo totalmente diverso do evangelho bíblico. A Bíblia é contra nós quanto pregamos dessa maneira, e o fato que tal pregação tornou-se prática quase padronizada entre nós serve apenas para demonstrar quão urgentemente devemos rever essa questão. Redescobrir o antigo, autêntico e bíblico evangelho, fazendo nossa pregação e nossa prática ajustarem-se ao mesmo, talvez seja a nossa premente necessidade hoje.

Fonte: Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã. Ed. Fiel, pág. 135,136 e 137.

Extraído do blog
Voltemos ao Evangelho.


sábado, 6 de outubro de 2012

O caminho para melhorar em conhecimento


E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, Regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.” (Atos 8:26-31)


Filipe e o eunuco são reunidos em uma conversa reservada. Ele [Filipe] encontra um carro que servirá de sinagoga e um homem, cuja conversão, ao que se saiba, desencadeará a conversão de uma nação inteira.

Filipe é ordenado a fazer companhia a este viajante que está indo para casa, regressando de Jerusalém via Gaza. O eunuco pensa que fez tudo que tinha de fazer em sua viagem, mas o assunto mais importante que a grandiosa providência de Deus designara para a viagem ainda não fora tratado. Ele estivera em Jerusalém, onde os apóstolos anunciavam a fé cristã e as multidões a confessavam. Mas ele não tinha tomado conhecimento disso e nem fizera investigações a respeito. Pelo visto, ele não dera importância a isso e lhe voltara as costas. Contudo, a graça de Deus o buscou, o alcançou no deserto e lá o conquistou. Assim Deus é achado por aqueles que não o buscavam (Is 65.1). Filipe recebeu esta ordem não por um anjo, como antes, mas pelo Espírito que sussurrou em seu ouvido: “Chega-te e ajunta-te a este carro (v.29). Vai tão perto que o cavaleiro perceba a tua presença.” (sic). Devemos procurar fazer o bem àqueles que casualmente nos fazem companhia ao longo da estrada, assim os lábios do justo apascentam muitos (Pv 10.21). Não devemos ser tão tímidos de todos os estranhos como alguns aparentam ser. Sobre aqueles de quem nada sabemos, sabemos pelo menos isto: eles têm alma.

Filipe encontra o eunuco lendo a Bíblia, assentado no seu carro (v.28). Correndo Filipe, ouviu que [o eunuco] lia (v.30). Ele lia em voz alta para que os que estavam com ele se beneficiassem com a leitura (v.30). Desta forma, ele aliviava o tédio da viagem e remia o tempo lendo. Lia não filosofia, história, política, muito menos um romance ou peça teatral, mas as Escrituras. Tratava-se do livro de Isaías, o livro que Jesus leu ( Lc 4.17) e que o eunuco lia, fatos que nos servem de indicação para nossa própria leitura particular. Talvez o eunuco estivesse relendo as porções das Escrituras que ele ouvira ser lidos e expostas em Jerusalém, para que não se esquecesse do que tinha ouvido. Note que:

(1) É dever de cada um de nós dialogar bastante com as Santas Escrituras.

(2) As pessoas que ocupam posição de destaque devem abundar mais que os outros nos exercícios devocionais, porque o seu exemplo influenciará muitas pessoas e eles têm mais tempo à disposição.

(3) É sábio que homens de negócio redimam o tempo para se dedicaram à deveres santos. O tempo é precioso, e a melhor economia no mundo é organizar os fragmentos de tempo, para que nada se perca, e preencher cada minuto com algo que tenha boa importância.

(4) Quando estivermos voltando do culto público, devemos usar meios em particular para manter os bons sentimentos estimulados e conservar as boas impressões feitas (1 Cr 29.18).

(5) Os que são diligentes em pesquisar as Escrituras estão no caminho certo para melhorar em conhecimento, porque àquele que tem se dará (Mt 13.12).

(extraído de HENRY, Mattew. Comentário Bíblico Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, 1ªed.)


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Os 100 benefícios da leitura




      "O poeta é um ser que lambe as palavras e 
      depois se alucina" (Manoel de Barros) 


    Reproduzo aqui excelente texto extraído do blog Falando em Literatura, sobre os benefícios proporcionados pela leitura.

    1. A arrogância diminui lendo um grande livro.
    2. A leitura pode te afastar de ações e pensamentos ruins.
    3. A leitura melhora a visão das coisas e permite ver o que antes nunca se havia visto.
    4. A leitura expande a mente e estimula a memória.
    5. A leitura é dinamite pura para a imaginação.
    6. A leitura nos permite estar sempre acompanhados, mas também respeita a nossa solidão.
    7. A leitura nos dota de palavras para expressar nossos sentimentos, emoções, crenças.
    8. A leitura nos aproxima cada vez mais da autocompreensão.
    9. A leitura é construtora de sociedades e de sonhos.
    10. A leitura é algo que podemos fazer em todos os lugares.
    11. A leitura ensina que o mundo inteiro pode estar num livro.
    12. A leitura pode te transformar em imortal. Todo grande escritor, geralmente também é um grande leitor.
    13. A leitura brinda benefícios econômicos: entender as cláusulas dos contratos te livrará de dores de cabeça.
    14. A leitura nos transporta gratuitamente através do espaço e do tempo.
    15. A leitura nos dá voz.
    16. A leitura é o mais parecido à telepatia e à mediunidade.
    17. A leitura nos dá o prazer de ver como nossa mente cria universos.
    18. A leitura serve também como um espelho.
    19. A leitura é como uma linda melodia sem instrumentos; o único instrumento é a palavra.
    20. A leitura pode ser para uma criança um jogo perfeito.
    21. A leitura é melhor- mas muito, muito melhor- que a televisão.
    22. Quando leio, leio o universo.
    23. Às vezes, quando leio, descubro o que penso.
    24. A leitura evita infrações de trânsito.
    25. Os maus governos temem aos bons leitores.
    26. Os tiranos não suportam os leitores que se empenham.
    27. Os que têm a memória fraca têm na escritura e na leitura a sua melhor ferramenta.
    28. A leitura eleva a alma.
    29. A leitura rejuvenesce ao mesmo tempo que nos torna sábios.
    30. É possível experimentar, morrer, nascer com a leitura, sem de fato experimentar morrer ou nascer.
    31. Ler é deixar que o amor aconteça.
    32. Ler é viajar sem pagar nada.
    33. Ler nos guia através do mundo.
    34. Ler as palavras de um pai ou mãe, escritas há muito tempo, os transporta ao presente.
    35. Ler o escrito de uma criança nos obriga a redescobrir tudo.
    36. Ler é uma escola, um templo, um hospital: me educo, me elevo, me reponho.
    37. A boa interpretação do que se lê pode te fazer passar em concursos públicos e outros trabalhos.
    38. Ler cultiva a humildade.
    39. Ler nos conduz a paradoxos e é impossível aborrecer- se.
    40. Ler acaba por transformar- se em uma atividade de tempo integral.
    41. Ler em sonhos: quem dera fosse possível recuperar tudo o que foi lido assim.
    42. Ler em uma biblioteca é como um safári na selva, mas sem vítimas.
    43. Ler enriquece os sonhos.
    44. Ler muda vidas.
    45. Ler salva.
    46. Ler é uma prova.
    47. Ler nos permite ver a imensidão de nossa ignorância.
    48. Ler brinda um prazer que, cultivado, pode durar toda a nossa vida.
    49. Ler o que escreveu alguém há séculos é falar olho no olho com os falecidos.
    50. Ler evita doenças, intoxicações e envenenamentos (leia sempre os rótulos e datas de validade).
    51. Ler evita caras reparações e mal entendidos.
    52. Ler é algo sumamente produtivo.
    53. O hábito da leitura cria grandes oradores.
    54. Ler gera temas para conversas.
    55. Ler, às vezes, espanta.
    56. Quando ler algo nos horroriza, comprova que o mundo ainda tem salvação.
    57. Ler a imprensa é uma escola: descobre- se a mentira, a manipulação e o engano, mas sempre há algo de realidade.
    58. Ler as palavras ajuda a ler os sintomas, as características, o clima, as faces, as estrelas.
    59. Ler poesia é reinar em si mesmo, ou em outro.
    60. Ler freneticamente e em carros em movimento, pode ocasionar tonturas (este não é um benefício).
    61. Reler é um prazer supremo.
    62. Ler leva as preocupações para longe.
    63. Ler em voz alta é encarnar palavras.
    64. Ler nos transporta a mundos desconhecidos.
    65. Ler é descobrir.
    66. Ler é explorar.
    67. Ler nos exige o melhor de nós mesmos.
    68. Ler é escutar.
    69. Ler enriquece sem limites.
    70. Ler é uma herança magnífica.
    71. Ler bons livros é uma arte que poucos cultivam.
    72. Exercer o direito de ler é o princípio da sabedoria.
    73. Um governo que não produz leitores, fomenta o fracasso.
    74. Um governo que não produz leitores, não tem esperança.
    75. Ler é o princípio da democracia.
    76. Ler é um luxo que todos devem cultivar.
    77. Ler deve reduzir a pobreza, a marginalização, a exclusão e a injustiça.
    78. Ler abre inumeráveis portas e ilumina incontáveis caminhos.
    79. Ler nos dá asas, nadadeiras, ousadia e olhos de raios- x.
    80. Ler nunca é tempo perdido.
    81. Ler nos dá amigos.
    82. Ler educa a mente, a memória e a imaginação.
    83. Ler obriga a escrever.
    84. Ler obriga a aprender a escutar.
    85. Ler nos faz pensar severamente nos outros.
    86. Ler humaniza.
    87. Ler libera.
    88. Ler alimenta a autoreflexão.
    89. Ler eleva a autoestima.
    90. Ler nos abre o mundo.
    91. Ler nos dá um sentido de antecipação.
    92. Ler manuais nos impede de ser chatos.
    93. Ler é sempre uma lição de humildade e humanidade.
    94. Ler ilumina.
    95. Ler é arriscar- se, expôr- se, aventurar- se.
    96. Ler é correr o risco de mudar tudo.
    97. Ler é uma das formas mais nobres de amor.
    98. Ler é receber muito em troca de quase nada.
    99. Ler é um excelente negócio.
    100. Ler transforma o mundo.
Fonte: Falando em Literatura (http://fernandajimenez.com)


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O evangelho de Satanás


O evangelho de Satanás não é um sistema de princípios revolucionários, nem ainda é um programa de anarquia. Ele não promove a luta e a guerra, mas objetiva a paz e a unidade. Ele não busca colocar a mãe contra sua filha, nem o pai contra seu filho, mas busca nutrir o espírito de fraternidade, por meio do qual a raça humana deve ser considerada como uma grande "irmandade". Ele não procura deprimir o homem natural, mas aperfeiçoá-lo e erguê-lo. Ele advoga a educação e a cultura e apela para "o melhor que está em nosso interior" - Ele objetiva fazer deste mundo uma habitação tão confortável e apropriada, que a ausência de Cristo não seria sentida, e Deus não seria necessário. Ele se esforça para deixar o homem tão ocupado com este mundo, que não tem tempo ou disposição para pensar no mundo que está por vir. Ele propaga os princípios do auto-sacrifício, da caridade, e da boa-vontade, e nos ensina a viver para o bem dos outros, e a sermos gentis para com todos. Ele tem um forte apelo para a mente carnal, e é popular com as massas, porque deixa de lado o fato gravíssimo de que, por natureza, o homem é uma criatura caída, apartada da vida com Deus, e morta em ofensas e pecados, e que sua única esperança reside em nascer novamente.

Contradizendo o Evangelho de Cristo, o evangelho de Satanás ensina a salvação pelas obras. Ele inculca a justificação diante de Deus em termos de méritos humanos. Sua frase sacramental é "Seja bom e faça o bem"; mas ele deixa de reconhecer que lá na carne não reside nenhuma boa coisa. Ele anuncia a salvação pelo caráter, o que inverte a ordem da Palavra de Deus - o caráter como fruto da salvação. São muitas as suas várias ramificações e organizações: Temperança, Movimentos de Restauração, Ligas Socialistas Cristãs, Sociedades de Cultura Ética, Congresso da Paz, estão todos empenhados (talvez inconscientemente) em proclamar o evangelho de Satanás - a salvação pelas obras. O cartão da seguridade social substitui Cristo; pureza social substitui regeneração individual, e, política e filosofia substituem doutrina e santidade. A melhoria do velho homem é considerada mais prática que a criação de um novo homem em Cristo Jesus; enquanto a paz universal é buscada sem que haja a intervenção e o retorno do Príncipe da Paz.

Os apóstolos de Satanás não são taberneiros e traficantes de escravas brancas, mas são em sua maioria ministros do evangelho ordenados. Milhares dos que ocupam nossos modernos púlpitos não estão mais engajados em apresentar os fundamentos da Fé Cristã, mas têm se desviado da Verdade e têm dado ouvidos às fábulas. Ao invés de magnificar a enormidade do pecado e estabelecer suas eternas conseqüências, o minimizam ao declarar que o pecado é meramente ignorância ou ausência do bem. Ao invés de alertar seus ouvintes para "escaparem da ira futura", fazem de Deus um mentiroso ao declarar que Ele é por demais amoroso e misericordioso para enviar quaisquer de Suas próprias criaturas ao tormento eterno. Ao invés de declarar que "sem derramamento de sangue não há remissão", eles meramente apresentam Cristo como o grande Exemplo e exortam seus ouvintes a "seguir os Seus passos". Deles é preciso que seja dito: "Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus" (Romanos 10:3). A mensagem deles pode soar muito plausível e seu objetivo parecer muito louvável, mas, ainda sobre eles nós lemos: - "Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras" (II Coríntios 11:13-15).

Somando-se ao fato de que hoje centenas de igrejas estão sem um líder que fielmente declare todo o conselho de Deus e apresente Seu meio de salvação, também temos que encarar o fato de que a maioria das pessoas nestas igrejas está muito distante de conseguir descobrir a verdade por si mesma. O culto doméstico, onde uma porção da Palavra de Deus era costumeiramente lida diariamente, é agora, mesmo nos lares de Cristãos professos, basicamente uma coisa do passado. A Bíblia não é exposta no púlpito e não é lida no banco da igreja. As demandas desta era agitada são tão numerosas, que multidões têm pouco tempo, e ainda menos disposição, para fazer uma preparação para o encontro com Deus. Por essa razão, a maioria, aqueles que são negligentes o bastante para não pesquisarem por si mesmos, são deixados à mercê dos homens a quem pagam para pesquisar por eles; muitos dos quais traem a verdade deles, por estudar e expor problemas sociais e econômicos ao invés dos Oráculos de Deus.

Em Provérbios 14:12 lemos: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". Este "caminho" que termina em "morte" é a Ilusão do Diabo - o evangelho de Satanás - um caminho de salvação através da realização humana. É um caminho que "parece direito", o qual, é preciso que se diga, é apresentado de um modo tão plausível que ganha a simpatia do homem natural; é pregado de forma tão habilidosa e atrativa, que se torna recomendável à inteligência dos seus ouvintes. Por incorporar a si mesmo terminologia religiosa, algumas vezes apela para a Bíblia como seu suporte (sempre que isto se ajusta aos seus propósitos), mantém diante dos homens ideais elevados, e é proclamado por pessoas que têm graduação em nossas instituições teológicas, e incontáveis multidões são atraídas e enganadas por ele.

O sucesso de um falsificador de moedas depende em grande medida de quão proximamente a falsificação lembra o artigo genuíno. A heresia não é uma total negação da verdade, mas sim, uma deturpação dela. Por isto é que uma meia verdade é sempre mais perigosa que uma completa mentira. É por isso que quando o Pai da Mentira assume o púlpito, não é seu costume claramente negar as verdades fundamentais do Cristianismo, antes ele tacitamente as reconhece, e então procede de modo a lhes dar uma interpretação errônea e uma falsa aplicação. Por exemplo, ele não seria tão tolo de orgulhosamente anunciar sua descrença em um Deus pessoal; ele dá a Sua existência como certa, e então apresenta uma falsa descrição da Sua natureza. Ele anuncia que Deus é o Pai espiritual de todos os homens, que as Escrituras claramente nos dizem que nós somos: "filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus" (Gálatas 3:26), e que "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1:12). E mais adiante, ele declara que Deus é por demais misericordioso para em algum momento enviar qualquer membro da raça humana no Inferno, mesmo havendo o próprio Deus dito que: "aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo" (Apocalipse 20:15). Novamente, Satanás não seria tão tolo, a ponto de ignorar a figura central da história humana - o Senhor Jesus Cristo; ao contrário, seu evangelho O reconhece como sendo o melhor homem que já viveu. A atenção é então levada para os Seus feitos de compaixão e para as Suas obras de misericórdia, para a beleza de Seu caráter e a sublimidade de Seu ensino. Sua vida é elogiada, mas Sua morte vicária é ignorada, a importantíssima obra reconciliadora da cruz não é mencionada, enquanto Sua triunfante e corpórea ressurreição dos mortos é considerada como uma crendice de uma época de muita superstição. É um evangelho sem sangue, e apresenta um Cristo sem cruz, que é recebido não como Deus manifesto em carne, mas meramente como o Homem Ideal.

por A. W. Pink
Fonte: Palavra Prudente, via 2Timoteo3.16