terça-feira, 25 de junho de 2013

A cura para a igreja morna


E ao anjo da igreja que está em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Ap 3:14-22, RC, edição de 1995)



Laodiceia era uma cidade sobre o rio Lico, famosa pelos amplos muros e, como Roma, edificada sobre sete montes. Parece que o apóstolo Paulo se esforçou para introduzir o evangelho em Laodiceia, de onde escreveu uma epístola, acerca da qual se refere Colossenses 4.16. A cidade foi destruída por um terremoto em 62 a.D. e reconstruída por seu próprio povo, que se orgulhava de o fazer sem pedir auxílio do Estado. As riquezas da cidade, provenientes da excelência de suas lãs, produziram um ambiente que refletia a apatia espiritual na igreja.

A mensagem à igreja em Laodiceia é a última das mensagens destinadas às sete igrejas da Ásia. De todas, é a mais triste, refletindo o oposto da carta a Filadélfia. Enquanto Filadélfia não tem coisa alguma digna de censura, Laodiceia não apresenta nada que mereça aprovação.

Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente (v.15). Se a mensagem a Laodiceia findasse com estas palavras, julgaríamos que eram de louvor e não de censura. Essa igreja sem dúvida agradava a todos os homens, não oferecendo qualquer oportunidade de “escândalo”, nem para os que quisessem dormir espiritualmente, nem para os descrentes que assistissem aos cultos. Convém-nos evitar a frieza de Sardes, a igreja morta; é justo desviarmo-nos de todo o excesso, de todo o fanatismo, mas devemos fugir, também, do espírito morno e insípido, que assiduamente procura entrada em todos os corações. Laodiceia era por completo desagradável ao Senhor, e isso não por causa de seus grandes pecados (tais como os repreendidos em Pérgamo e Tiatira) mas por causa da sua apatia, seu indiferentismo. Deus quer que seus filhos sejam “fervorosos” no espírito” (Rm 12.11). Ai da igreja que canta os hinos de Deus e ora, mas de uma maneira formal, oca, vazia e sem o verdadeiro poder de Deus! Ai da igreja cujos membros defendem a sã doutrina, mas sem conhecer as experiências sublimes dos que têm contato com Deus! É aceitável tomar uma coisa quente em dia gélido; ujm copo de água fria refresca em tempo de calor. Mas a água morna em todos os tempos é repugnante, servindo mais como vomitório. Ai da igreja que se vangloria nas suas riquezas e influência, porquanto Deus declara que a vomitará de sua boca!

Como dizes: Rico sou... de nada tenho falta (v. 17). Infeliz é o crente que se acha satisfeito e seguro sem nada lhe faltar. É-nos impossível receber o verdadeiro espírito de oração sem primeiro sentir profundamente o que carecemos. Bem-aventurados os que têm fome e sede daquilo que lhes falta, os que anelam não somente a vida, mas vida em abundancia, os que anseiam de Deus “uma benção até que não haja mais lugar para a recolherdes”. Estes são os fervorosos em espírito. Rogamos ao Senhor que não permita que enganemos a nós mesmos, mas que nos mostre a nossa pobreza, cegueira e nudez.

Não sabes que és... cego (v.17). Os membros da igreja em Laodiceia não compreenderam que Deus iria vomitá-los de sua boca. Não perceberam a Cristo crucificado. Não viram a eternidade, apesar de estarem constantemente perante a entrada. A igreja é verdadeiramente cega quando fita pedras, torres, órgãos, bancadas, cômodas, etc., em lugar de enxergar a glória dos céus, bem como o suplício do inferno.

Não sabes que és... nu (v.17). Estavam nus; não trajavam vestes de justificação, nem de santificação. Todo o aparato de luxo no vestir o corpo não vale coisa alguma. Somente o incorruptível traje do espírito (1Pe 3.4) esconde a nudez da alma.

Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo (v.18). Mas como podem os pobres comprar ouro? Justamente como podem comprar, de Cristo, vinho e leite, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1).

Eu repreendo e castigo a todos quantos amo (v.19). Se Cristo ama os crentes que não têm qualidades louváveis, como os de Laodiceia, também não é demais esforçarmo-nos para amar verdadeiramente a tais.

Eis que estou à porta e bato (v.20). Observe que estas palavras não são um apelo aos perdidos, mas são dirigidas à igreja. Note, também, como Cristo está excluído da sua igreja.

Quando Sir Noel Paton pintou o famoso quadro representando o Rei coroado de espinhos batendo à porta, foi censurado porque se esquecera de incluir a maçaneta na porta. Mas o célebre pintor de propósito omitira este detalhe. A fechadura da porta está no lado de dentro; somente o dono da casa pode abrir a porta para o Mestre entrar – foi a explicação dada por ele.

A única cura para a igreja morna, como era Laodiceia, é abrir a porta e deixar Jesus Cristo entrar. Os cultos sem Cristo são sempre sem graça, são mornos como os de Laodiceia.

Ao que vencer (v.21). Admira-nos o fato de a promessa aos membros da mais censurada das sete igrejas ser a mais esplêndida e graciosa feita a qualquer das sete. A mais indigna igreja, ou o mais indigno crente, pode alcançar o mais alto lugar se hover arrependimento e fruto.

Fonte: BOYER, Orlando Spencer. Espada Cortante. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, 8ª ed, vol. 1.




sexta-feira, 14 de junho de 2013

Graça Superabundante


Em Romanos 5.20, a Palavra nos diz: “...mas onde abundou o pecado, superabundou a graça”. A palavra “graça” é um dos vocábulos mais preciosos das Escrituras. O arcebispo Trench diz a respeito dessa palavra no idioma grego: “Não é exagero dizer que a mente grega em qualquer outra palavra se expressou mais distintamente do que nessa, deixando transparecer tudo quanto estava em seu coração.” Os gregos eram amantes do belo na natureza, em sua arquitetura, em seus santuários, em sua poesia, em seus dramas. Qualquer coisa que merecesse a admiração, o louvor, o prazer ou a alegria de coração, era designada por essa palavra. Tal termo também veio a designar um favor prestado graciosamente, espontaneamente, um obséquio feito sem expectativa de recompensa, mas que se originava exclusivamente na generosidade do doador.
Ora, quando usamos a palavra grega que é traduzida por “graça”, aplicando-a ao Novo Testamento, podemos utilizar de modo semelhante as palavras de Trench. A graça de Deus é aquele ato inigualável, motivo de seu espontâneo e infinito amor, desce de seu trono de julgamento no céu a fim de revestir-se da culpa de nosso pecado e da penalidade que com toda a justiça nos cabia, tendo feito isso não a favor de amigos seus, mas, sim, a favor de seus inimigos. Nesse caso a palavra “graça” ultrapassa em muito o sentido que tinha para os gregos pagãos.
O termo “abundou” se baseia numa palavra grega diferente daquela que é traduzida por “superabundou”. Essa palavra significa “existir em abundância”. Porém, a segunda palavra, que trambém significa “existir em abundância”, traz em si a ideia adicional de uma abundância que é mais que suficiente. Trata-se de algo que existe até ao ponto de superfluidade. Uma palavra cognata desse vocábulo é empregada numa carta de 108 D.C., “Mais do que bastante já foi escrito”, ou noutra de 117 D.C., “Acho supérfluo escrever mais extensivamente”. Em adição a isso, Paulo prefixou uma preposição a essa palavra; preposição que completa poderia ser: “Onde o pecado existia em abundância, a graça mostrou-se superabundante até ao ponto de superfluidade, e então mais ainda foi adicionado a tudo isso”.
Deus criou o sol para fornecer luz e calor à terra em que vivemos. Porém, uma bem pequena fração dessa luz e desse calor chega até o globo. O restante se difunde no espaço. Nunca precisaremos preocupar-nos pensando que o calor e a luz do sol nos faltarão algum dia. Deus fez um reservatório gigantesco para servir-nos.
Existe graça suficiente, no coração amoroso de Deus, para salvar e conservar salvo, para o tempo presente e a eternidade, todo pecador que já viveu ou viverá ainda, e então sobrará o suficiente para salvar um milhão mais de universos repletos de pecadores, caso os houvesse, e ainda haveria provisão para mais. Existe graça abundante disponível para dar a cada santo vitória constante sobre o pecado, e depois, mais ainda. Existe graça abundante para contrabalançar e eliminar todas as tristezas, mágoas, dificuldades, tentações, provações e testes da existência humana, e mais ainda é adicionado a tudo isso. A salvação de Deus é uma salvação gigantesca. É à prova de choques, inquebrável, toda suficiente. Está à altura de qualquer emergência, pois flui do coração de um Deus infinito, e é proporcionada com justiça mediante o todo-suficiente sacrifício de nosso Senhor, efetuado na cruz. A salvação é dada inteiramente baseada na graça. Confiai na graça de Deus, pois trata-se de uma graça superabundante.

Fonte: WUEST, Kenneth S. Jóias do Novo Testamento Grego. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, 3ª impressão. 118 p.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Não cesses de falar deste livro da lei


 [Russel Norman Champlin]

Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido(Josué 1:7-8)


Tão somente sê forte e mui corajoso. Uma vez mais, o Senhor encorajou Josué (ver os vss. 6, 9 e 18; cf. Deu. 31.7), sendo aqui informado de que a observância da lei dar-lhe-ia as forças necessárias para cumprir sua tarefa, porque Yahwehm que baixara a lei, estaria ao seu lado. Um Josué desobediente, entretanto, não chegaria a lugar nenhum quanto à difícil tarefa que tinha recebido. A obediência à lei, sem dúvida alguma, é o grande tema dos livros desde Êxodo até Josué. […] A promessa da vitória na conquista da Terra Prometida era condicional. Nenhuma missão divina dada aos homens é incondicional. O crente precisa estar preparado, agir e levar avante a sua tarefa. A geração mais antiga de israelitas tinha chegado até a fronteira da Terra Prometida, mas não pôde entrar. Moisés, tão intimamente ligado àquela geração, também foi proibido de entrar ali. A desobediência fizera-se presente, desqualificando aquela geração de Israel e o próprio Moisés.
Para que sejas bem sucedido. Não quanto ao aspecto econômico ou sob a forma de propriedades, mas em sua missão, para que a levasse a bom termo. A lei prometia vida e prosperidade (Deu. 4.1; 5.33; 6.2).
Não cesses de falar deste livro da lei. Este oitavo versículo reforça a mensagem do anterior, ou seja, a absoluta necessidade de obediência à lei, que é o principal tema dos livros desde o Êxodo até Josué, bem como o grande lema do judaísmo através dos séculos. O modus operandi dessa obediência é descrito neste versículo:
1) A palavra de lei precisava estar na boca de Josué, sempre pronta para ser dita; porquanto era mister comunicá-la e outras pessoas. Cf. Deu. 6.7.
2) Josué precisava meditar sobre a lei, para conhecer bem o seu conteúdo, saturando o seu coração com a mensagem da lei. Digamos que seria uma meditação transformadora. Cf. Sal. 1.2; 119.97.
3) Josué tinha de observar todos os aspectos da lei, tanto as suas provisões morais quanto as suas provisões cerimoniais, cuidando para que o povo de Deus também não se esquecesse de tal observância. Cf. Num. 1.54; Deu. 32.46; Esd. 7.10 e Tia. 1:22-25.
Josué era um homem de tendências militares; mas, para que a sua tarefa militar desse certo, ele precisaria ser também um homem espiritual. “Israel precisava apegar-se à lei por meio da lealdade; deveria falar sobre ela; meditar sobre ela; ensiná-la continuamente. Cf. Deu 5.29-33 e 6.4-9. Somente então essa nação poderia ter esperança de obter a vitória” (John Bright)

Fonte: CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo: Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, volume 2. São Paulo: Hagnos, 2001, 2ª ed.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O avivamento que vem pelo ensino


Então, todo o povo se foi a comer, e a beber, e a enviar porções, e a fazer grandes festas, porque entenderam as palavras que lhes fizeram saber.” (Neemias 8.12)

Só o ensino da Palavra de Deus produz verdadeiro avivamento no meio da igreja local. Nos nossos dias, há uma onda de movimentos evangelísticos produzidos por ação humana com o objetivo de atrair multidões ávidas por novidade e modismos. Tais movimentos carecem da base fundamental e consistente, que é o ensino da Palavra de Deus.
Todos os verdadeiros movimentos na história do povo de Israel e no seio da Igreja, ao longo dos séculos, só tiveram resultados duradouros quando começaram e prosseguiram alicerçados na Palavra de Deus. Avivamentos sem a Palavra de Deus são apenas movimentos que passam com o tempo e não geram mudanças significativas na vida e no comportamento das pessoas envolvidas. O avivamento, no tempo de Neemias, teve a marca do ensino da Palavra de Deus.
Neemias, o líder da reconstrução, e Esdras, o sacerdote, eram homens que se dedicavam ao estudo da Palavra do Senhor. Ao reunirem o povo na praça principal da cidade, sem meios de transmissão da mensagem, deve ter sido uma tarefa extraordinária e difícil, mas eles o fizeram. Repassaram para o povoo conteúdo da lei do Senhor para a vida dos habitantes de Jerusalém. Eles não tinham preocupação com a oratória, nem com a retórica, nem com a eloquência do discurso.
Simplesmente leram a palava de modo didático, pausadamente, para que o povo entendesse o que Deus requeria dos que o serviam naquele momento crucial para a história de Israel após anos e anos de cativeiro em terra estranha. Diz o texto: “E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e entendidos; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei” (Ne 8.3). Além da leitura, havia a explicação do significado de cada expressão. O povo entendeu, e como resultado, sobreveio poderoso avivamento no meio deles. Houve um quebrantamento verdadeiro, e não um simples remorso. Houve alegria, festa, e o povo se dispôs a trabalhar na reconstrução.

Um verdadeiro culto de doutrina

Reunidos para ouvir a Palavra. Diante do que Deus fizera através do esforço denodado dos israelitas, sob a liderança de Neemias na edificação dos muros em redor do Templo, o povo sentiu necessidade de ter sua edificação espiritual também. Como foi dito anteriormente, não adiantaria um templo lindo com admirável beleza arquitetônica se o povo não tivesse o temor de Deus, um quebrantamento para adorar ao Senhor. Templo sem a presença de Deus é corpo sem alma, sem espírito.
O texto bíblico nos revela que houve uma fome e uma sede de ouvir a Palavra de Deus. “E chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todo o povo ase ajuntou como um só homem, na praça, diante da Porta das Águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da Lei de Moisés, que o SENHOR tinha ordenado a Israel” (Ne 8.1). Ali, na praça principal, “diante da Porta das Águas”, iniciou-se um poderoso avivamento na história de Jerusalém.
Não era para assistir a um show de grupos musicais, nem ouvir um artista da época, mas o ajuntamento impressionante acontecera para que o povo ouvisse a Palavra de Deus. Se fosse hoje, aquele grande evento teria a cobertura de alguns órgãos da imprensa, pois “...o povo se ajuntou como um só homem”. Isso nos fala não só de reunião, mas de uma união e integração do povo de Israel, a fim de ouvir a Palavra de Deus.
Hoje, em algumas igrejas, há pouca participação dos membros nos cultos de ensino da Palavra de Deus. Reuniões de estudo da Palavra são desprezadas por grande parte dos crentes, sobretudo dos mais jovens. No entanto, quando se anuncia a presença de um cantor famoso faltam lugares para os expectadores. Isso é sintoma de fastio da Palavra. É sintoma de doença espiritual de extrema gravidade. O crente que ama a Deus ama sua Palavra. Disse o salmista: “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia!” (Sl 119.97)

Fonte: RENOVATO, Elinaldo. Livro de Neemias - integridade e coragem em tempos de crise. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, 1ª ed.