terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O pecado do orgulho

[Richard Baxter]

O orgulho é um pecado que tem interesse demasiado naquilo que temos de melhor, e mais odiento e indesculpável em nós mesmos do que em outros homens. No entanto, prevalece de tal maneira, que condena nossos sermões, escolhe nossa companhia, molda nosso semblante, coloca enunciação e ênfase em nossas palavras. Enche a mente das pessoas com desejos e aspirações e domina a alma com pensamentos invejosos e amargurados. Lança-as contra os que permanecem na sua luz ou contra quem quer que possa eclipsar o brilho de sua própria reputação! Que companheiro constante, que comandante tirano, que inimigo sutil e surpreendente é o pecado do orgulho! Acompanha os homens à loja, ao armazém e ao alfaiate: escolhe o tecido de suas roupas, enfeites e moda. Sem o domínio de tal tirano vício, haveria menos pastores a se ocupar primariamente com cabelos e vestes enfeitadas.

Quisera isto fosse tudo, ou o pior de tudo. Infelizmente o orgulho, muitas vezes, acompanha também o nosso preparo do sermão e assenta-se conosco para o estudo! Muitas vezes, ele escolhe o assunto para nossa pregação e, até mesmo, nossas palavras e rebusques! Deus ordena que sejamos tão simples como for possível a fim de esclarecer os ignorantes, e tão convincentes e sérios como for possível para abrandar e transformar os corações endurecidos. Mas o orgulho se opõe e contradiz a todos, produzindo chocarrices e frivolidades. Polui em vez de polir. Sob pretexto de louváveis ornamentos, desonra nossos sermões com penduricalhos infantis, tal como um príncipe em trajes de ator ou um palhaço de circo. O orgulho nos persuade a pintar a janela com cores fortes que só faz enfraquecer a luz. Induz-nos a falar com o povo sobre coisas que embotam o entendimento, mas que só revelam que somos capazes de falar coisas sem nenhum proveito. Ainda que o texto escolhido seja claro e penetrante, o orgulho tira o fio da espada. Sob pretexto de evitar rudez e superfluidade, muitos tornam a pregação maçante e entorpecem uma mensagem que poderia ser vívida.

Especialmente quando Deus nos encarregou de tratar com os homens como se fôssemos responsáveis pela vida deles, e a instar com eles com toda sinceridade possível, tal pecado poderá obter controle e condenar os mais santos mandamentos de Deus. O orgulho nos dirá: "O quê! Quer que as pessoas pensem que você tem a mente fechada? Quer que digam que você está irado ou irascível? Não poderia falar de maneira mais leve e amigável?". Assim, o orgulho faz o sermão de muitos pregadores. E aquilo que o orgulho faz o diabo faz. Podemos imaginar que tipo de sermões o diabo elabora, e com que fim! Ainda que o assunto verse sobre Deus, se as vestes, as maneiras e a finalidade forem propostas pelo diabo, não poderemos esperar senão a derrota.

Fonte: BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Escravos da justiça

Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça? Mas, graças a Deus, porque, embora vocês tenham sido escravos do pecado, passaram a obedecer de coração à forma de ensino que lhes foi transmitida. Vocês foram libertados do pecado e tornaram-se escravos da justiça” (Rm 6:16-18)


Em Romanos 6:16-18, a palavra “servos” é tradução de um vocábulo grego que se deriva de outro cujo sentido é “amarrar”. Assim sendo, em Romanos aquela palavra se refere a alguém que está amarrado a outro – um escravo. No grego existem duas palavras que se referem a um indivíduo em estado de escravidão. A primeira fala de um pessoa tomada como escravo durante uma guerra. A outra diz respeito a alguém que já nasceu na escravidão. Esta última é a empregada em nosso texto.

Essa palavra apresenta o escravo em diversos aspectos. Trata-se de alguém ligado ao seu senhor. Nós que confiamos no Senhor Jesus como nosso Salvador, anteriormente estávamos ligados a Satanás pelas ligaduras do pecado. Éramos seus escravos. Agora, contudo, estamos ligados a nosso Senhor Jesus pelos laços da vida eterna. Além disso, esse escravo está numa relação permanente para com seu Senhor, a qual só pode ser rompida pela morte. Mas, louvado seja Deus, visto que Ele vive, nós também vivemos e visto que Ele nunca morrerá, nós também nunca morreremos. Somos seus escravos eternos. Acresce, porém, que essa espécie de escravo já nasceu na escravidão. Nascemos como escravos de Satanás por motivo do nosso primeiro nascimento. Mas, por motivo de nosso segundo nascimento, ou regeneração, nascemos como escravos de Jesus Cristo, escravidão essa que em realidade é uma condição gloriosamente livre e bendita, na qual somos seus escravos por amor para todo sempre. Além disso, aquela palavra se refere a alguém cuja vontade é absorvida na vontade de outrem. Antes de nossa salvação, nossas vontades estavam absorvidas na vontade de Satanás. Andávamos segundo o príncipe do poder do ar. Agora, a nossa vontade, na medida em que cedemos à plenitude do Espírito Santo, está absorvida da vontade de Outrem, nosso bendito Salvador. “Faze o que quiseres, Senhor”, é o cântico de nossos corações. Mas essa palavra também se refere a um escravo devotado aos interesses de seu senhor, até o ponto de desconsiderar seus próprios interesses. Enquanto éramos escravos de Satanás, nós o servíamos sem dar atenção aos nossos melhores interesses, pois o salário que dele recebíamos era a morte. No entanto, nós o servíamos cegamente, por mais caro que fosse o preço pago. E agora que somos escravos do Senhor Jesus Cristo, servímo-lo a ponto de desconsiderar nossos próprios interesses? Estamos servindo ao Senhor somente até ao ponto em que isso nos custa algo, e aí paramos? Ou antes nos temos abandonados completamente ao seu serviço, sem contar o custo, sem considerar nossas vidas preciosas a nós mesmos?

Que exemplo admirável encontramos no apóstolo Paulo. Ele gostava de chamar-se escravo de Jesus Cristo, pois esse era seu título favorito. Seu apostolado vinha em segundo lugar. Ele considerava tudo como refugo, em comparação com a excelência do conhecimento do seu Senhor.

Fonte: WUEST, Kenneth S. Jóias do Novo Testamento Grego. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, 3ª impressão. 118 p.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Quem és tu para discutires com Deus?

[por Charles H. Spurgeon]

Há pessoas que acham que o pecador dá o primeiro passo rumo à salvação. Isso não é verdade. Deus sempre dá o primeiro passo. As pessoas nunca clamarão a Deus para salvá-las até que a obra da salvação já tenha sido começado em seus corações. Elas não querem a misericórdia de Deus. Elas fogem da graça que lhes é oferecida. Elas rejeitam o evangelho quando é pregado. Não virão a Cristo para que possam ter vida. Voltam suas costas para Deus de maneira obstinada e perversa. As pessoas só são salvas quando Deus, com Sua mão forte, leva-as até Cristo.


A graça começa, continua e termina a obra da salvação no coração de uma pessoa. O caminhante não demonstrou pena pela criança porque ela poderia ser útil no futuro, como fazem as pessoas no mundo. Depois que a criança foi resgatada, alimentaram-na, trataram dela e vestiram-na com belas roupas. Se vocês lerem todo o capítulo 16 de Ezequiel, encontrarão a resposta da criança. Ela desviou-se daquele que a amou e salvou. Deus sabia que isso iria acontecer, mas ainda assim amou a ingrata criança. Somos como essa criança. Deus sabia que embora Ele nos tivesse amado quando não havia nada de bom em nós, iríamos revoltar-nos depois que Ele nos salvasse. Deus sabe tudo. Ele sabe que nossos corações às vezes são apartados dele. Deus nos ama mesmo sabendo que muitas vezes não cremos nele.


Deus não os amou porque sabia que seriam pregadores, distribuidores de folhetos ou professores de escola dominical. Deus os amou mesmo sabendo que muitas vezes vocês seriam ingratos e frios em seus corações para com Ele. Não havia absolutamente nenhuma razão pela qual Deus deveria salvar essa criança. Não havia nenhuma razão pela qual Deus deveria salvar os pecadores. Deus sabe que todas as pessoas são culpadas, como criminosos no tribunal de justiça. Ele sabe que Sua misericórdia pareceria ter sido jogada fora em homens assim.


Agora quero mostrar-lhes a graça soberana de Deus. Deus diz: "Vou poupar esse traidor; ele merece morrer, mas vou poupá-lo. Vou provar que sou rei e o Deus da misericórdia." Por que então Deus poupa esta criança banida? Há apenas uma resposta para essa pergunta: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia" (Rom 9:15-16). Não façam perguntas. Deus não explica às pessoas o que Ele faz ou porque Ele faz isso.


Se vocês questionarem sua realeza sua resposta será: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?" (Rom. 9:20). Peçam a Deus sua misericórdia. No entanto, lembrem-se de que vocês não têm direito à sua misericórdia. Peçam a Deus misericórdia, sabendo que Ele tem o direito de dá-la ou de recusá-la como lhe aprouver. Se Deus quiser, Ele pode salvá-los; ou se desejar, Ele pode destruí-los. Vocês têm a obrigação de curvar suas cabeças e dizer: "Deus tenha misericórdia de nós, pecadores, salve-nos para sua glória, para que sua misericórdia e soberania possam ser claramente vistas."


Fonte: http://www.charleshaddonspurgeon.com/

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Deus é Fiel


Deus é verdadeiro. Sua Palavra de promessa é certa. Em todas as Suas relações com o Seu povo, Deus é fiel. Pode-se confiar nEle, com segurança. Nunca houve alguém que tivesse confiado nEle em vão. Vemos esta preciosa verdade expressa em quase toda parte nas Escrituras, pois o Seu povo precisa saber que a fidelidade é uma parte essencial do caráter divino. Esta é a base da nossa confiança nEle. Mas, uma coisa é aceitar a fidelidade de Deus como uma verdade divina, e outra coisa, muito diferente, é agir com base nisso. Deus "nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas", mas nós contamos realmente com o seu cumprimento por Deus? Esperamos de fato que Ele vai fazer por nós tudo que disse que fará? Descansamos com implícita segurança nestas palavras:"...fiel é o que prometeu" (Hebreus 10:23)?

Há ocasiões na vida de todos em que não é fácil, nem mesmo para os cristãos, crer que Deus é fiel. Nossa fé é provada dolorosamente, nossos olhos ficam toldados pelas lágrimas, e não conseguimos mais encontrar o rumo dos baluartes do Seu amor. Os nossos ouvidos se distraem com os ruídos do mundo, arruinados pelos sussurros ateísticos de Satanás e não conseguimos mais ouvir a doce entonação da voz mansa e delicada do Senhor. Sonhos alimentados foram frustrados, amigos em quem confiávamos falharam conosco, um falso irmão ou irmã em Cristo nos traiu. Vacilamos. Procuramos ser fiéis a Deus, e agora uma trevosa nuvem O esconde de nós. Achamos difícil, impossível mesmo, à razão carnal harmonizar a Sua sombria providência com as promessas da Sua graça, Ah, alma titubeante, companheiro de peregrinação provado com tanto rigor, procure graça para ouvir Isaías 50:10; "Quem há entre vós que tema a,Jeová, e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus".

Quando você for tentado a duvidar da fidelidade de Deus, brade: "Para trás de mim, Satanás". Ainda que você não possa harmonizar os misteriosos procedimentos de Deus com as Suas declarações de amor, confie nEIe e aguarde mais luz. Na hora dEle, certa e boa, Ele fará com que você o veja com clareza, “...o que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois" (João 13:7). A sequência dos fatos demonstrará que Deus não abandonou nem enganou Seu filho. "Por isso o Senhor esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso será exalçado, para se compadecer de vós, porque o Senhor é um Deus de equidade: bem-aventurados todos os que nele esperam (Isaías 30:18).

"Não julgues o Senhor por tua mente,
porém, confia nEIe por Sua graça.
Por trás de uma severa providência
Ele oculta um semblante sorridente.
Animai-vos, ó santos temerosos!
As nuvens que temíveis vos parecem,
ricas são de mercês, e irromperão
em bênçãos derramadas sobre vós."

"Os teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis" (Salmo 119:138). Deus não nos falou apenas o melhor, mas também não retirou o pior. Ele descreveu fielmente a ruína efetuada pela Queda. Ele diagnosticou fielmente o terrível estado produzido pelo pecado. Fielmente fez conhecido o Seu inveterado ódio ao mal, e que ê preciso que Ele o puna. Advertiu-nos fielmente de que Ele é "fogo consumidor" (Hebreus 12:29). Sua Palavra não contém somente numerosas ilustrações de Sua fidelidade no cumprimento de Suas promessas, mas também registra numerosos exemplos de Sua fidelidade em fazer valer as Suas ameaças. Cada estágio da história de Israel exemplifica esse fato solene. Foi assim com indivíduos: Faraó, Core, Acã e uma multidão de outros mais, são outras tantas provas. E será assim com você, meu leitor, a menos que você tenha buscado ou busque refúgio em Cristo, as chamas eternas do Lago de Fogo serão a tua porção certa e segura. Deus é fiel.


A. W. Pink
In: Os Atributos de Deus.
publicado em cincosolas.blogspot.com