quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Observações sobre o dízimo


A passagem bíblica sobre o dízimo é encontrada em Levítico 27:30-33, que apresenta:

Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores são do SENHOR; santas são ao SENHOR. Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará o seu quinto sobre ela. No tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara, to dízimo será santo ao SENHOR. Não esquadrinhará entre o bom e o mau, unem o trocará; mas, se em alguma maneira o trocar, o tal e o trocado serão santos; não serão resgatados.”

Outras passagens também oferecem explicações detalhadas. Números 18:21-32 dá a instrução de que o dízimo seja usado para sustentar os levitas, a tribo separada para servir a Deus. Consequentemente, ele não foi dado em sua própria província quando Canaã foi conquistada por Josué. Deuteronômio 12:5-14 e 14:22-26 ensinam que os dízimos deviam ser trazidos ao santuário central, que foi mais tarde estabelecido em Jerusalém. Deuteronômio 14:27-30 e 26:12-15 apresentam outro dízimo, que devia ser coletado a cada três anos. Este dízimo devia ser guardado localmente e distribuído aos necessitados. Embora alguns vejam três dízimos no Antigo Testamento, parece mais provável que fossem dois: os dez por cento anuais, separados para aqueles que serviam ao Senhor, e o dízimo de cada três anos, destinado ao auxílio de viúvas, órfãos e estrangeiros desamparados.

O dízimo era aplicável a tudo aquilo que a terra produzia, e não à renda originida do comércio. Na opinião de alguns, o dízimo era um aluguel que Deus cobrava do povo de Israel a quem Ele concedia o privilégio de viver ali (Dt 1.8; 3.2). O dízimo também tinha o intuito de ser uma oportunidade para se expressar a fé. Deus prometera abençoar o trabalho de seu povo (Dt 14.29). Aqueles que confiavam nele separavam seus dízimos alegremente, certos de que Ele satisfaria suas necessidades através de abundantes colheitas futuras (Ml 3.10).

Mas por que o Novo Testamento não menciona o dízimo dos cristãos? Para responder, precisamos nos lembrar de que o dízimo foi primeiramente imposto a Israel, uma comunidade de fé que também era uma nação. Israel tinha sua própria terra, e estruturas civis governadas pela lei de Moisés. O dízimo básico de Israel financiava o centro de adoração da nação, e uma classe especial, levítica e sacerdotal, dedicada ao serviço. Além disso, o dízimo servia como a parte de Deus na produção da terra que Ele permitia que Israel ocupasse.

Em contraste, a comunidade de fé do Novo Testamento existe como pequenas comunidades, dispersas em cada nação. Nossa comunidade de fé não tem um centro de adoração principal para financiar. Já não existe mais um sacerdócio à moda do Antigo Testamento, mas cada crente agora é visto como um sacerdote. No Novo Testamento, Paulo argumenta a favor do direito que os obreiros cristãos de tempo integral têm, de serem mantidos por aqueles a quem ministram. Assim, há diferença no motivo e na maneira como estas contribuições serão usadas nos dois Testamentos. Há também um paralelo entre aquela preocupação pelos pobres expressa no dízimo de cada três anos de Israel, e na coleta de Paulo pelos pobres de Jerusalém (2 Corintios 8 e 9).

Podemos justificar a importação do dízimo para nossa era. As raízes daquele costume eram parte da vida de Israel sob a Lei, tanto quanto qualquer sacrifício ritual.

Quanto aos ensinos do Novo Testamento, quando se trata de ofertas, e não de dízimos, cada um deve dar não uma quantia estabelecida, mas que “cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necesssidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2Co 9.7). Como expressão do amor e da confiança que Deus surprirá cada uma de nossas necessidades, a caridade cristã é verdadeiramente algo gracioso. É nossa resposta de amor à maravilhosa dádiva de amor que recebemos de Deus, e nossa resposta de amor aos nossos irmãos e irmãs que estejam passando por necessidades.


* extraído do comentário do texto de 2 Coríntios 8 e 9 - Os princípios da caridade no Novo Testamento


RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD. 2008, 3ª ed.

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