sábado, 16 de fevereiro de 2013

Programa de leitura bíblica para iniciantes


[R.C.Sproul]

Milhares de resoluções de “ano novo” já foram feitas e quebradas no que diz respeito à leitura bíblica. Promessas de ler a Bíblia de capa a capa são feitas e refeitas. Entretanto, permanece o fato de que a grande maioria dos cristãos professos nunca leu a Bíblia toda. A maioria já leu o Novo Testamento, mas poucos completaram o Antigo Testamento.

Por que os cristãos se tornaram tão negligentes no que se refere ao estudo bíblico? Será meramente uma questão de falta de disciplina ou de devoção? Isto pode ser parte do problema, o que, consequentemente, produz muita culpa entre os cristãos por deixarem de fazer o que deveriam estar fazendo. Penso, porém, que mais do que falta de disciplina, o problema está relacionado com o método de leitura.

Começamos nossa leitura bíblica com absoluta determinação e diligentemente lemos o livro de Gênesis. Gênesis fornece informações importantes sobre os fundamentos da história bíblica e continua suavemente ao longo da história dos patriarcas. Até aqui, tudo bem. Êxodo é cheio de drama, com proezas de Moisés e a libertação de Israel da tirania dos egípcios. Cecil B. DeMille e Charlton Heston1 deram a muitos de nós um senso da familiaridade com esses eventos. Na sequência temos levíticos. Aqui o quociente de perda de interesse começa a aumentar. Muitos que atravessam penosamente a leitura de Levíticos estão acabados quando chegam a Números. Uns poucos obstinados chegam até Deuteronômio e os últimos perseverantes atravessam todo o Antigo Testamento.

Na realidade, descobri que a maioria das pessoas que conseguem ler os primeiros cinco livros chega ao final do Antigo Testamento. A maior parte das pessoas desiste de ler o Antigo Testamento porque atola em Levítico e Números. As razões são óbvias. Estes livros tratam detalhadamente de questões de organização de Israel, inclusive listas extensas de leis casuísticas. Muito deste material é totalmente alheio a nós e torna a leitura difícil.

No entanto, a informação contida nestes livros é de importância crucial para comprendermos o alcance da história da redenção. Uma compreensão precisa do Novo Testamento depende de nosso conhecimento desses livros. De fato, uma vez adquirida uma compreensão global do alcance das Escrituras, descobriremos que Levítico e Números são fascinantes e deliciosamente interessantes. Mas sem esta compreensão geral os detalhes parecem não fazer nenhum sentido.

Para superar os problemas que muitos apresentam na leitura da Bíblia, sugiro uma rota alternativa para alcançar o objetivo – ler os livros bíblicos na ordem que se segue:

Gênesis                 (História da criação, queda e pacto na história dos patriarcas)
Êxodo                   (História da libertação e formação de Israel como povo de Deus)
Josué                     (História da conquista militar da terra prometida)
Juízes                    (História da transição da federação tribal para a monarquia)
1 Samuel               (História do início da monarquia com Samuel, Saul e Davi)
2 Samuel               (O reinado de Davi, idade de ouro de Israel)
1 Reis                    (História de Salomão e a divisão do reino)
2 Reis                    (História da queda de Israel e o início dos profetas)
Esdras                   (História do retorno do exílio)
Neemias                (História da restauração de Jerusalém)

Depois leia:

Amós e Oseias     (Exemplos de profetas menores)
Jeremias               (Exemplo de profeta maior)
Eclesiastes e
Cântico dos
Cânticos               (Exemplos de literatura de sabedoria)
Salmos e
Provérbios            (Exemplos de poesia hebraica)

Esta lista de leitura dá um sumário do Antigo Testamento e estabelece a estrutura para compreendê-lo. É o esqueleto ao qual se pode acrescentar a carne e os nervos dos outros livros após o término da leitura do Novo Testamento.

A seguir temos a lista esboçada para o Novo Testamento:

Evangelho de Lucas   (Vida e ensinos de Jesus)
Atos                          (História da igreja primitiva)
1 Coríntios                 (Introdução ao ensino de Paulo)
1 Pedro                     (O ensino da vida da igreja)
1 Timóteo                  (Introdução às epístolas pastorais)
Hebreus                     (Teologia de Cristo – Cristologia)
Romanos                   (Teologia paulina)

Tal como no caso do Antigo Testamento, esta relação proporciona uma familiaridade básica com as diversas partes do Novo Testamento. Após o término desta leitura, poderemos voltar e preencher o esqueleto.

É importante compreender a dinâmica da autodisciplina. Autodisciplina é mais facilmente adquirida quando primeiros nos colocamos sob a disciplina de outra pessoa. Para completar este programa introdutório seria sábio pedir a alguém que supervisionasse seu programa de leitura. Se for possível frequentar um curso ou classe de Escola Dominical na igreja, isto seria muito útil.


[1O autor se refere ao filme “Os Dez Mandamentos” (Paramount, 1956), superprodução dirigida por Cecil B. DeMille (1881-1959) e estrelada por Charlton Heston.



Fonte: SPROUL, R. C. O conhecimento das Escrituras: Passos para um estudo bíblico sério e eficaz. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. 143 p.


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