sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O beneplácito de Deus é a causa da Lei

[João Calvino]

Ao colocar diante de nós a Sua lei como padrão de justiça, Deus baseou cada uma das suas exigências no seu beneplácito; concluímos disso que nada é tão aceitável a Ele como obediência à sua vontade. Este ponto é digno da nossa mais cuidadosa consideração, porque a mente do homem está continuamente disposta a inventar novos modos de culto para granjear a aprovação de Deus. Em todas as eras, esta religião irreligiosa tem-se mostrado e ainda se mostra em nossos próprios dias. Os homens sempre estão procurando alcançar a justiça por algum meio diferente daquele que está registrado na Palavra de Deus, e daí ocorre que, entre as realizações que geralmente são consideradas boas obras, os atos de obediência aos preceitos dos homens ocupam o lugar de primazia e os preceitos de Deus são quase esquecidos. A melhor cura para esta enfermidade é lembrar-se constantemente que a lei foi dada por Deus para nos ensinar a verdadeira justiça e que nela não é ensinada retidão alguma senão a obediência à vontade divina, pois segue-se disto que todas as boas obras inventadas pelo homem são vãs.

Antes de discutirmos cada mandamento separadamente, seria bom ressaltar três considerações que são aplicáveis aos dez como um todo:

1.         A primeira é esta: a lei reivindica do homem não apenas o decoro externo como também a justiça interior e espiritual. Embora isto seja reconhecido por todos os homens, realmente é crido por muito poucos, e isto se deve ao fato de que não consideram devidamente o caráter do Legislador. Se um rei terrestre promulgasse um édito proibindo a fornicação, o assassínio e o furto, não afetaria os homens que se abstivessem de cometer externamente tais transgressões. Neste caso, o legislador apenas toma conhecimento de atos exteriores. Mas quando Deus, cujo olho vê todas as coisas, proíbe a fornicação, o assassínio e o furto, sua proibição estende-se aos pensamentos do coração, tais como a concupiscência, o ódio e a cobiça.

2.        Há mais nos mandamentos e proibições de Deus do que aparece na superfície das palavras. Devemos considerar o objetivo pelo qual foi dado cada mandamento. Por exemplo, o quinto mandamento, "Honra a teu pai e a tua mãe", visa ensinar-nos que honra deve ser dada a todas as pessoas que Deus revestiu com honra. Devemos, no entanto, tomar o cuidado de não forçar demais este método de interpretação, a fim de não nos tornarmos culpados de torcer as Escrituras para adaptar-se ao nosso próprio interesse. Aqueles que assim fazem, podem obter o que quiserem de qualquer coisa (quodlibet e quolibet). Devemos fielmente representar a mente pura e genuína do Legislador.

3.        Não é sem boa razão que a lei foi dada em duas tábuas. Este fato é mencionado várias vezes (Êx. 31:18; 32:15, 19; 34:1, 4, 29), e todos os expositores sólidos admitem que o fato é importante e relevante. Deus, dessa forma, dividiu sua lei, o padrão completo da justiça, em duas partes, de modo que uma delas tratasse do relacionamento entre o homem e Deus, e a outra do relacionamento entre o homem e o seu semelhante. O fundamento básico da justiça é a adoração a Deus, e se ele for transtornado, todos os demais ramos da justiça serão danificados e subvertidos. Portanto, a primeira tábua nos ensina a piedade e os deveres peculiares da religião, e a segunda nos diz como Deus  quer  que  procedamos  com o nosso  próximo.  Desse modo, nosso Senhor Jesus Cristo resume a lei inteira em dois títulos: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" [Mat. 22:37-40;   Luc.  10:27).

Fonte: www.ocalvinista.com


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