terça-feira, 9 de julho de 2013

Quando o QUERER e o DEVER não se harmonizam



"Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço,
 isso faço." (Romanos 7.15)


[por John Piper]


Se o seu “querer” não se conforma com o “dever” estabelecido por Deus, o que você pode fazer para ter paz? Vejo pelo menos cinco estratégias possíveis.

1) Você pode evitar pensamentos sobre o “dever”. Esta é a estratégia mais comum no mundo. Muitas pessoas simplesmente não dedicam energia para considerar o que deveriam estar fazendo e não o estão fazendo. É mais fácil apenas deixar o rádio tocando.

2) Você pode reinterpretar o “dever”, para que este se pareça com o seu “querer”. Isto é um pouco mais sofisticado; portanto, não é muito comum. Geralmente exige uma educação especializada, para ser feito com credibilidade; ou, a graduação em um seminário pode fazer isso com requinte.

3) Você pode reunir os poderes da sua vontade para realizar uma forma de “dever”, embora não tenha o “querer” em seu coração. Isso parece muito bom e, frequentemente, é mal interpretado como uma virtude, até por aqueles que o fazem. De fato, há uma filosofia que diz: “O dever sem o querer é a essência da verdadeira virtude”. O problema desta filosofia é o que Paulo disse: “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Coríntios 9.7). Isso coloca os que contribuem por “dever” em uma situação precária.

4) Você pode sentir contrição pelo fato de que o seu “querer” é muito pequeno e frágil – como um grão de mostarda. Depois, se você tiver a capacidade, cumpre o “dever” pelo esforço da vontade, enquanto lamenta que seu “querer” seja fraco e ora para que este logo seja restaurado. Talvez este até seja restaurado enquanto você realiza o “dever”. Isto não é hipocrisia. A hipocrisia oculta a ausência do “querer” e finge que ele existe. A virtude confessa o desejo deficiente na esperança de que a graça perdoará e restaurará.

5) Por meio da graça, você pode buscar a Deus, para que Ele lhe dê o “querer”, de modo que, chegando o momento de cumprir o “dever”, você terá o “querer”. Em última instância, o “querer” é um dom de Deus. “A mente da carne é hostil para Deus... e não é capaz de submeter-se à lei de Deus” (Romanos 8.7 – tradução do autor). “O homem natural não pode entender as coisas do Espírito de Deus...porque elas são apreciadas espiritualmente” (1 Coríntios 2.14 – tradução do autor). “Na expectativa de que Deus lhes conceda...o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2 Timóteo 2.25).

A doutrina bíblica do pecado original se resume nisto (emprestado de Agostinho): somos livres para fazer o que gostamos, mas não somos livres para gostar do que deveríamos gostar. “Pela desobediência de um só homem [Adão] , muitos se tornaram pecadores” (Romanos 5.19). Esta é a nossa condição. E sabemos, com base em nosso próprio coração e nas Escrituras, que somos responsáveis pela corrupção de nosso “querer”. De fato, quanto melhor nos tornamos, tanto mais nos envergonhamos de sermos maus, e não apenas de fazermos o mal. Como disse N. P. Williams, “o homem pode sentir-se envergonhado de praticar o que é errado, mas o santo, capacitado com o aprimoramento superior de uma sensibilidade moral e poderes perspicazes de introspecção, se envergonha de ser o tipo de pessoa que está sujeito a praticar o que é errado”.

A obra soberana e espontânea de Deus em mudar o coração é a nossa única esperança. Portanto, temos de pedir-lhe um novo coração. Temos de orar para que Ele nos dê o “querer” - “Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça” (Salmos 119.36). “Alegra a alma do ter servo, porque a ti, Senhor, elevo a minha alma”. Deus prometeu fazer isto: “Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos” (Ezequiel 36.27). Isto é a nova aliança comprada com o sangue de Jesus (ver Hebreus 8.8-13; 9.15). “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4.16).


Fonte: PIPER, John. Provai e Vede. São José dos Campos: Fiel, 1ª edição em português: 2008.

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