quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

As quatro mulheres da genealogia de Jesus




Uma das características distintivas da genealogia Jesus, escrita por Mateus, é a inclusão específica de quatro mulheres – Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba, mulher de Urias. A pergunta crítica é: Por quê?

A cultura hebraica era patriarcal, e as genealogias normalmente relacionavam somente os homens. No entanto, havia duas razões básicas no oriente para incluir uma mulher ou duas: 1) a mulher era muito admirada, e sua inclusão ressaltava a reputação da família; 2) o marido tinha mais de uma esposa e, neste caso, o nome da mulher é basicamente mencionado com o nome do seu filho. Este costume é frequentemente seguido no Antigo Testamento quando se mencionam os reis de Israel e de Judá.

No entanto, não podemos apelar a nenhum destes costumes para explicar porque Mateus incluiu as quatro mulheres que ele decidiu mencionar. Elas não eram admiradas. Tampouco existe qualquer confusão no Antigo Testamento a respeito de quem eram seus filhos. Assim, somos levados a procurar alguma outra razão para o fato de Mateus mencionar estas quatro mulheres em particular.

A elucidação depende do que sabemos sobre elas. Tamar, uma mulher de Canaã, seduziu o sogro que lhe tinha prejudicado, e deu a ele dois filhos (Gn 38). Raabe, também de Canaã, ganhava a vida como uma prostituta antes de dedicar a sua lealdade ao Senhor e ajudar os espias israelitas a escapar de Jericó (Js 2.6). Rute, embora pura moralmente, era moabita, raça cuja origem deu-se a partir de um incesto (Gn 19:30-37) e que, de acordo com Deuteronômio 23.3, tinha a entrada proibida na congregação do Senhor. Bate-Seba é mais conhecida pelo seu adultério (forçado?) com Davi. Embora nascida em uma família judia (1Cr 3.5), ela pode ter sido classificada coo uma heteia devido ao seu casamento com o heteu Urias (2Sm 11.3; 23.39).

As quatro mulheres parecem ter duas coisas em comum. Elas eram moralmente corrompidas e estavam excluídas da comunidade da aliança do Antigo Testamento, não tendo nenhum direito nativo de reivindicar uma vida com Deus, nem de esperar que Ele lidasse com elas em Sua graça. Então, o que levou Mateus a incluir estas quatro mulheres na linhagem de Jesus, o Messias?

Umas das possibilidades é que, como coletor de impostos, encarado com desprezo por seus vizinhos, Mateus sabia o que significava ser um pecador e depois um redimido. Mateus identificava-se com estas quatro mulheres e as inclui como exemplos do poder transformador de Deus, que agora enviou o Messias para “salvar o seu povo dos seus pecados” (1.21).

Uma outra possibilidade é que Mateus poderia estar pensando na universalidade da missão de Jesus. O concerto de Deus com Abraão incluía a promessa: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). As quatro mulheres demonstram o compromisso definitivo no convite do evangelho cristão para que todos creiam em Jesus e sejam salvos.

Uma terceira possibilidade é que Mateus esteja sutilmente lembrando os seus leitores, que procuravam por um Messias que apareceria em glória e poder, que a história mostra que Deus trabalha de maneiras estranhas e misteriosas. Não podemos dizer como Deus agirá, ou como deve agir. Tudo o que podemos fazer é reconhecer a sua criação e adorá-lo.

Não existe razão para descartar nenhuma das interpretações acima. Na verdade, elas se combinam de uma maneira maravilhosa. Nosso Deus é o Deus do inesperado. Ele permanece preocupado com aqueles “excluídos”, tanto quanto com você e eu. Como cada uma das quatro mulheres exemplificam, Deus alcança o pecador com graça e, por seu poder transformador, purifica pecadores e os torna membros vitais e contribuintes da comunidade de fé.

Fonte:  RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. 3ª ed.

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