“E ao
anjo da igreja que está em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu
sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio
ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente,
vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um
desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que
de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e
vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua
nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu
repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e
arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a
minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e
ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no
meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu
trono. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”
(Ap 3:14-22, RC, edição de 1995)
Laodiceia era uma cidade sobre o rio Lico, famosa pelos amplos muros
e, como Roma, edificada sobre sete montes. Parece que o apóstolo
Paulo se esforçou para introduzir o evangelho em Laodiceia, de onde
escreveu uma epístola, acerca da qual se refere Colossenses 4.16. A
cidade foi destruída por um terremoto em 62 a.D. e reconstruída por
seu próprio povo, que se orgulhava de o fazer sem pedir auxílio do
Estado. As riquezas da cidade, provenientes da excelência de suas
lãs, produziram um ambiente que refletia a apatia espiritual na
igreja.
A mensagem à igreja em Laodiceia é a última das mensagens
destinadas às sete igrejas da Ásia. De todas, é a mais triste,
refletindo o oposto da carta a Filadélfia. Enquanto Filadélfia não
tem coisa alguma digna de censura, Laodiceia não apresenta nada que
mereça aprovação.
Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente (v.15). Se a
mensagem a Laodiceia findasse com estas palavras, julgaríamos que
eram de louvor e não de censura. Essa igreja sem dúvida agradava a
todos os homens, não oferecendo qualquer oportunidade de
“escândalo”, nem para os que quisessem dormir espiritualmente,
nem para os descrentes que assistissem aos cultos. Convém-nos evitar
a frieza de Sardes, a igreja morta; é justo desviarmo-nos de todo o
excesso, de todo o fanatismo, mas devemos fugir, também, do espírito
morno e insípido, que assiduamente procura entrada em todos os
corações. Laodiceia era por completo desagradável ao Senhor, e
isso não por causa de seus grandes pecados (tais como os
repreendidos em Pérgamo e Tiatira) mas por causa da sua apatia, seu
indiferentismo. Deus quer que seus filhos sejam “fervorosos” no
espírito” (Rm 12.11). Ai da igreja que canta os hinos de Deus e
ora, mas de uma maneira formal, oca, vazia e sem o verdadeiro poder
de Deus! Ai da igreja cujos membros defendem a sã doutrina, mas sem
conhecer as experiências sublimes dos que têm contato com Deus! É
aceitável tomar uma coisa quente em dia gélido; ujm copo de água
fria refresca em tempo de calor. Mas a água morna em todos os tempos
é repugnante, servindo mais como vomitório. Ai da igreja que se
vangloria nas suas riquezas e influência, porquanto Deus declara que
a vomitará de sua boca!
Como dizes: Rico sou... de nada tenho falta (v. 17). Infeliz é
o crente que se acha satisfeito e seguro sem nada lhe faltar. É-nos
impossível receber o verdadeiro espírito de oração sem primeiro
sentir profundamente o que carecemos. Bem-aventurados os que têm
fome e sede daquilo que lhes falta, os que anelam não somente a
vida, mas vida em abundancia, os que anseiam de Deus “uma benção
até que não haja mais lugar para a recolherdes”. Estes são os
fervorosos em espírito. Rogamos ao Senhor que não permita que
enganemos a nós mesmos, mas que nos mostre a nossa pobreza, cegueira
e nudez.
Não sabes que és... cego (v.17). Os membros da igreja em
Laodiceia não compreenderam que Deus iria vomitá-los de sua boca.
Não perceberam a Cristo crucificado. Não viram a eternidade, apesar
de estarem constantemente perante a entrada. A igreja é
verdadeiramente cega quando fita pedras, torres, órgãos, bancadas,
cômodas, etc., em lugar de enxergar a glória dos céus, bem como o
suplício do inferno.
Não sabes que és... nu (v.17). Estavam
nus; não trajavam vestes de justificação, nem de santificação.
Todo o aparato de luxo no vestir o corpo não vale coisa alguma.
Somente o incorruptível traje do espírito (1Pe 3.4) esconde a nudez
da alma.
Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo (v.18).
Mas como podem os pobres comprar ouro? Justamente como podem comprar,
de Cristo, vinho e leite, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1).
Eu repreendo e castigo a todos quantos amo (v.19).
Se Cristo ama os crentes que não têm qualidades louváveis, como os
de Laodiceia, também não é demais esforçarmo-nos para amar
verdadeiramente a tais.
Eis que estou à porta e bato (v.20).
Observe que estas palavras não são um apelo aos perdidos, mas são
dirigidas à igreja. Note, também, como Cristo está excluído da
sua igreja.
Quando Sir Noel Paton pintou o
famoso quadro representando o Rei coroado de espinhos batendo à
porta, foi censurado porque se esquecera de incluir a maçaneta na
porta. Mas o célebre pintor de propósito omitira este detalhe. A
fechadura da porta está no lado de dentro; somente o dono da casa
pode abrir a porta para o Mestre entrar – foi a explicação dada
por ele.
A única cura para a igreja morna,
como era Laodiceia, é abrir a porta e deixar Jesus Cristo entrar. Os
cultos sem Cristo são sempre sem graça, são mornos como os de
Laodiceia.
Ao que vencer (v.21).
Admira-nos o fato de a promessa aos membros da mais censurada das
sete igrejas ser a mais esplêndida e graciosa feita a qualquer das
sete. A mais indigna igreja, ou o mais indigno crente, pode alcançar
o mais alto lugar se hover arrependimento e fruto.
Fonte: BOYER, Orlando Spencer.
Espada Cortante.
Rio de Janeiro: CPAD, 2009, 8ª
ed,
vol. 1.
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