[R.C. Sproul]
Quando
um bebe nasce, sua entrada neste mundo geralmente é acompanhada por
um forte tapa no traseiro. A resposta normal da criança é um
estridente grito de protesto. Por que o bebe chora? O choro é uma
resposta à dor? Ou o medo? Ou de raiva?
Talvez
o choro seja provocado por todas as razões acima. Nossa entrada no
mundo é marcada por som e fúria. Esse protesto inicial é
considerado por alguns como a soma não só do significado do
nascimento, mas do significado de toda a vida. Macbeth ponderou:
A vida não é mais do que um caminhar nas sombras,
um pobre ator que anda pomposo e aborrecido pelo
palco,
e depois não é mais ouvido; é como uma fábula
contada por um idiota, cheia de sons e de paixão,
mas sem nenhum significado.
Significar
nada é ser total e completamente insignificante. Ser insignificante
é ser sem sentido. Ser sem sentido é ser sem valor ou sem
dignidade.
Minha
significação e a sua estão relacionadas com as perguntas quem
somos e o que somos nós. É uma questão de identidade.
Minha identidade, em última análise, está ligada ao meu
relacionamento com Deus. Não posso entender quem ou o que
sou sem entender quem ou o que Deus é.
Existe
uma dependencia mútua entre nosso conhecimento de nós mesmos e
nosso conhecimento de Deus. Assim que me torno consciente de mim
mesmo, como indivíduo, descubro que não sou Deus; sou uma criatura.
Tenho uma data de nascimento, ou seja, um momento em que minha vida
começou aqui na terra. A lápide no meu túmulo não terá gravada
eternidade como meu ponto de partida. […]
Minha
consciência de que sou uma criatura dirige meus pensamentos até o
Criador, ou para “cima”. Não posso contemplar Deus ou qualquer
outra coisa além de mim até que primeiro esteja consciente de mim
mesmo. Mesmo assim, não posso captar plenamente o sentido do meu
próprio ser enquanto não entender a mim mesmo em relação a Deus.
Finalmente então, a antropologia, o estudo da humanidade, é uma
subdivisão da teologia, o estudo de Deus.
A
crise da humanidade moderna encontra-se na ruptura entre a
antropologia e a teologia – entre o estudo dos seres humanos e o
estudo de Deus. Quando nossa história é contada isoldamente ou
divorciada da história de Deus, então realmente ela se torna “uma
fábula, contada por um idiota, cheia de sons e de paixão, mas sem
nenhum significado”. Se somos considerados sem qualquer
referencia a Deus, tornamo-nos uma “paixão inútil”, como
declarou o filósofo Jean-Paul Sartre.
O
que é uma "paixão inútil"? Paixão é um sentimento
intenso. A vida humana é marcada por sentimentos intensos, que
incluem paixões como amor, ódio, medo, culpa, ambição, cobiça,
inveja, ciúme e muitas outras. Como criaturas, temos sentimentos
intensos concernentes à nossa vida. Uma pergunta nos assalta
constantemente: Será que todos esses sentimentos são inúteis? Será
que todo nosso esforço e cuidado é meramente um exercício de
futilidade, uma excursão à nulidade?
O
significado da nossa vida está em jogo. Nossa dignidade está em
questão. Se os seres humanos são considerados isoladamente,
separados do relacionamento com Deus, então permanecem sozinhos e
insignificantes. Se não somos criaturas feitas por Deus e
relacionadas com ele, somos meros acidentes cósmicos. Nossa origem
seria insignificante e nosso destino seria igualmente insignificante.
Se emergirmos do limo por acidente e finalmente nos desintegramos num
vácuo ou num abismo cheio de nada, então vivemos nossas vidas entre
dois extremos de absoluto vazio. Somos zeros despojados, desnudos e
desprovidos de dignidade e de valor.
Atribuir
dignidade temporária a um ser humano, quer dizer, entre os dois
extremos de uma origem sem sentido e um destino sem sentido é
entregarmo-nos a um sentimento simples: importunamo-nos a enganar a
nós mesmos.
Nossa
origem e nosso destino estão atados a Deus. O significado único e
final que podemos ter tem de ser teológico. A pergunta que
formulamos foi feita pelo salmista:
“Quando contemplo os teus
céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,
que é o homem, que dele te lembres? E o Filho do homem, que o
visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de
glória e de honra o coroaste.” (Salmo 8.3-5)
Ser
criado por Deus é estar relacionado com Deus. Esse relacionamento
inescapável assegura que não somos nenhum ruído ou sentimento
inútil. Na criação, recebemos uma coroa de glória. Uma coroa de
glória é uma tiara de dignidade. Com Deus, temos dignidade; sem
Deus, não somos nada.
SUMÁRIO
1.
Não podemos conhecer a Deus sem primeiro estarmos conscientes de nós
mesmos.
2.
Não podemos conhecer profundamente a nós mesmos sem primeiro
conhecer a Deus.
3.
Seres humanos relacionados com Deus: Origem com propósito + destino
com propósito = Vida significativa.
4.
Seres humanos sem relação com Deus: Origem sem sentido + destino
sem sentido = Vida sem sentido.
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