Em Romanos 5.20, a Palavra nos diz: “...mas onde abundou o
pecado, superabundou a graça”. A palavra “graça” é um
dos vocábulos mais preciosos das Escrituras. O arcebispo Trench diz
a respeito dessa palavra no idioma grego: “Não é exagero dizer
que a mente grega em qualquer outra palavra se expressou mais
distintamente do que nessa, deixando transparecer tudo quanto estava
em seu coração.” Os gregos eram amantes do belo na natureza,
em sua arquitetura, em seus santuários, em sua poesia, em seus
dramas. Qualquer coisa que merecesse a admiração, o louvor, o
prazer ou a alegria de coração, era designada por essa palavra. Tal
termo também veio a designar um favor prestado graciosamente,
espontaneamente, um obséquio feito sem expectativa de recompensa,
mas que se originava exclusivamente na generosidade do doador.
Ora, quando usamos a palavra grega que é traduzida por “graça”,
aplicando-a ao Novo Testamento, podemos utilizar de modo semelhante
as palavras de Trench. A graça de Deus é aquele ato inigualável,
motivo de seu espontâneo e infinito amor, desce de seu trono de
julgamento no céu a fim de revestir-se da culpa de nosso pecado e da
penalidade que com toda a justiça nos cabia, tendo feito isso não a
favor de amigos seus, mas, sim, a favor de seus inimigos. Nesse caso
a palavra “graça” ultrapassa em muito o sentido que tinha para
os gregos pagãos.
O termo “abundou” se baseia numa palavra grega diferente daquela
que é traduzida por “superabundou”. Essa palavra significa
“existir em abundância”. Porém, a segunda palavra, que trambém
significa “existir em abundância”, traz em si a ideia adicional
de uma abundância que é mais que suficiente. Trata-se de algo que
existe até ao ponto de superfluidade. Uma palavra cognata desse
vocábulo é empregada numa carta de 108 D.C., “Mais do que
bastante já foi escrito”, ou noutra de 117 D.C., “Acho supérfluo
escrever mais extensivamente”. Em adição a isso, Paulo prefixou
uma preposição a essa palavra; preposição que completa poderia
ser: “Onde o pecado existia em abundância, a graça mostrou-se
superabundante até ao ponto de superfluidade, e então mais ainda
foi adicionado a tudo isso”.
Deus criou o sol para fornecer luz e calor à terra em que vivemos.
Porém, uma bem pequena fração dessa luz e desse calor chega até o
globo. O restante se difunde no espaço. Nunca precisaremos
preocupar-nos pensando que o calor e a luz do sol nos faltarão algum
dia. Deus fez um reservatório gigantesco para servir-nos.
Existe graça suficiente, no coração amoroso de Deus, para salvar e
conservar salvo, para o tempo presente e a eternidade, todo pecador
que já viveu ou viverá ainda, e então sobrará o suficiente para
salvar um milhão mais de universos repletos de pecadores, caso os
houvesse, e ainda haveria provisão para mais. Existe graça
abundante disponível para dar a cada santo vitória constante sobre
o pecado, e depois, mais ainda. Existe graça abundante para
contrabalançar e eliminar todas as tristezas, mágoas, dificuldades,
tentações, provações e testes da existência humana, e mais ainda
é adicionado a tudo isso. A salvação de Deus é uma salvação
gigantesca. É à prova de choques, inquebrável, toda suficiente.
Está à altura de qualquer emergência, pois flui do coração de
um Deus infinito, e é proporcionada com justiça mediante o
todo-suficiente sacrifício de nosso Senhor, efetuado na cruz. A
salvação é dada inteiramente baseada na graça. Confiai na graça
de Deus, pois trata-se de uma graça superabundante.
Fonte: WUEST, Kenneth S. Jóias do Novo Testamento Grego. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, 3ª impressão. 118 p.
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