1) Métodos de ensino
A
didática é a reflexão sobre a atividade de ensinar. Embora lide
também com questões relativas ao aprendizado (ação do aluno), seu
foco principal é a ação do professor. Uma das áreas abordadas
pela didática engloba as questões de método,
metodologia,
técnicas
e procedimentos
de ensino. Segundo Preiswerk, o método e a metodologia devem ser
entendidos da seguinte maneira: espaço das inter-relações dentro
dos diferentes componentes da educação, e entre eles: estrutura
social, atores, finalidades, conteúdos. O método é um conjunto de
relações e de interações que define, em última instância, o
caráter e a natureza de uma determinada educação. [...] Por
metodologia,
seguindo o uso mais comum, entendemos o conjunto das técnicas
utilizadas durante o processo educacional.”
Pelas
definições acima, percebemos que o método
se relaciona com o modo pelo qual conduzimos todo o nosso trabalho
educacional. Podemos considerar o método, por exemplo, a partir das
atividades que o aluno realiza para o aprendizado. Nesse sentido,
podemos citar quatro tipos diferentes e complementares de método que
podem ser usados nas aulas e demais encontros educacionais cristãos:
1. “Um método
dedutivo parte de uma lei ou de um conjunto de
conhecimentos estabelecidos pela cultura ou pela ciência e os aplica
a casos determinados. Começa com o geral ou universal e chega ao
particular.”
Talvez
esse seja o método mais comum usado nas escolas dominicais. O ponto
de partida é a compreensão de um princípio bíblico, um conceito
teológico ou uma doutrina. Depois de apreender o conteúdo, passa-se
a discutir sua aplicação.
2.
“Um método
indutivo
procede exatamente ao contrário: parte de casos e situações
particulares; compara-os, tenta ordená-los e trata de encontrar uma
lei que permita relacioná-los. Vai do particular para o geral.”
Esse
método é pouco usado em classes de escola dominical. Em parte
porque o uso de materiais curriculares previamente preparados
dificulta a sua utilização. Contudo, a razão principal para seu
pouco uso, segundo me parece, está no fato de que em nossa tradição
protestante temos dificuldade em construir o saber teológico a
partir das experiências cotidianas. Quase sempre ficamos na troca de
experiências sem reflexão crítica.
3. “Um método
interativo (dialético) aproveita os conhecimentos
já adquiridos e os reinterpreta a partir de situações novas que se
apresentam. Confronta constantemente o particular com o geral.”
Esse
método aproveita os aspectos positivos dos dois anteriores. Seria
interessante usá-lo com alguma frequência em nossas aulas. Afinal
de contas, a maior parte de nossos alunos já conhece parcialmente os
temas que estudamos. Assim, é importante que os temas a serem
estudados sejam analisados a partir de novas perspectivas e
situações.
4. “Um método
divergente inventa e cria novos conhecimentos,
colocando em relação elementos que pertencem a diferentes campos do
saber e cujo encontro pode provocar uma novidade.”
Esse
é, talvez, o mais rico e mais difícil método a ser usado. Ele se
utiliza de conceitos, saberes, experiências e situações a partir
de diferentes campos do saber – sociologia, psicologia, teologia
etc. – a fim de construir novos conceitos e possibilidades de
compreender e transformar a realidade. Pode ser usado na escola
dominical, sobretudo, porque nossos alunos têm formação escolar e
experiências de vida diferentes e podem contribuir para a produção
de novos conhecimentos bíblico-teológicos.
Para
aplicar esses métodos, devemos selecionar as técnicas
apropriadas a cada um deles. É comum encontrarmos professores
preocupados com as técnicas a serem usadas a fim de que suas aulas
sejam interessantes e motivadoras. Entretanto, as técnicas,
por si só, não são capazes de resultar em uma boa educação.
Analise com atenção o seguinte trecho extraído do livro do Dr.
Preiswerk e reflita sobre o seu próprio uso de técnicas de ensino –
tanto avaliando
o que você já tem feito como propondo
novas possibilidades de atuação.
“As
técnicas em educação, como em qualquer outro campo da vida humana,
têm um aspecto instrumental. Todavia, não são neutras e o educador
não pode usá-las sem se questionar a respeito dos valores que elas
transmitem.
Efetivamente,
por trás das técnicas, atrás de determinados procedimentos
didáticos, estão presentes, em maior ou menor grau, valores e
projetos que podem facilitar ou entorpecer as finalidades propostas –
mesmo que não haja uma relação direta entre as finalidades e as
técnicas.
Um
material didático pode ter uma aparência muito atrativa, utilizar
procedimentos criativos e, ao mesmo tempo, estar a serviço de um
projeto educacional muito conservador e reprodutor dos valores
dominantes. Do contrário, um material pode ter objetivos
transformadores da realidade e, mesmo assim, usar técnicas que
contradizem as finalidades. De forma mais concreta, uma técnica como
a exposição, por exemplo, pode servir tanto a um discurso fechado e
impositivo, como à narração de uma parábola que transforma a
compreensão que o(a) educando(a) tem de si mesmo(a) ou de Deus.
A
pesquisa pode ser uma busca criativa ou uma perda de tempo, quando
o(a) educando(a) não sabe o que e nem para que está pesquisando.
Um
audiovisual pode ser o meio mais eficaz para transmitir uma verdade
fechada e alheia à realidade do educando(a) ou um estímulo criativo
para despertar novas dimensões e conhecimentos.” (PREISWERK,
Matthias, apud ZABATIERO,
2009)
2) Técnicas de ensino
Após
falar brevemente sobre alguns métodos de ensino, enfocaremos algumas
técnicas que podem ser aplicadas para que a pedagogia se concretize.
[…] Ao tratar de técnicas, nós as consideramos caminhos
para alcançarmos nossos objetivos. Portanto, não há técnicas
infalíveis, universais ou receitas prontas para a aula. Por isso,
precisamos preparar bem nossas atividades de ensino – não só os
conteúdos a serem discutidos, mas também as técnicas que usaremos.
Precisamos caminhar em busca da excelência didática, ou seja, da
perfeição no ensino, para que haja aprendizado e edificação na
igreja.
Não
abordaremos todas as técnicas possíveis. Há excelentes livros
sobre o assunto [...]. Apenas destacaremos alguns procedimentos
básicos para o trabalho em sala de aula:
1. Preleção.
Exposição do tema, pelo preletor, diante de um auditório. É um
método bom para quando a classe estiver motivada e o conteúdo for
novo. Se, por um lado, a exposição poupa tempo, por outro,
dificulta a participação da classe, exigindo muita habilidade do
professor para manter o nível de atenção. Ao usá-la, procure
sempre preparar perguntas para a classe responder, ou alterne a
preleção com pequenos trabalhos em grupo ou outros métodos
participativos.
2. Dinâmica
de grupo. Há múltiplas formas de trabalho em grupo a serem
adotadas em sala de aula. Por exemplo: a discussão do tema por toda
a classe em conjunto; a divisão em grupos menores, para estudo,
discussão ou reflexão; os grupos compartilhados etc. Seja qual for
a dinâmica usada, porém, precisa ser previamente preparada e
selecionada, senão pode se tornar meramente um bate-papo nada
educacional. Os métodos de grupo possuem a grande vantagem de
ampliar a participação da classe e, no contexto da igreja, ajudam a
aumentar a comunhão. Possuem, entretanto, também os seus limites.
Se a classe não estiver acostumada a trabalhar, o grupo pode ser
“grupo”, ou seja, apenas tempo perdido.
Caso você goste de
usar métodos de grupo, mantenha-se bem informado sobre eles, sempre
buscando adquirir novas experiências e materiais sobre o assunto. Em
minha experiência pessoal, os métodos de grupo são úteis quando
estão inseridos em uma exposição, ou quando os alunos estão bem
motivados para trabalhar por conta própria. São importantes, ainda,
no estudo de textos bíblicos – pois ajudam a vislumbrar os
diferentes ângulos de um texto, especialmente se for um texto
difícil.
3. Dramatização.
É a “representação teatralizada de situações reais da vida
com o propósito de dar e receber informações, alcançar melhor
compreensão das situações e favorecer maior integração do grupo”
(NÉRICI, I.G., apud ZABATIERO, 2009). Entre outras vantagens, a
dramatização nos ajuda a “entrar” no mundo pessoal do tema a
ser estudado e a nos envolvermos concretamente com o tema. Exige,
porém, disposição e preparo prévio do grupo – o que também
apresenta a vantagem de aumentar a comunhão e a integração da
classe. É bem apropriada para lidar com temas existenciais e
pessoais, pois ajuda-nos a expressar nossas emoções.
Aprecio bastante as
dramatizações. Entretanto, é muito difícil usá-las com adultos,
pois costumamos nos sentir mais inibidos. A situação dos jovens é,
em geral, diferente, pois eles ainda não se deixaram dominar pela
“sisudez” das responsabilidades da vida adulta na sociedade
capitalista. Para que a dramatização funcione, precisamos nos abrir
para Deus, para o próximo e, especialmente, para nós mesmos.
Devemos, ainda, levar em conta que uma dramatização “didática”
não deveria tomar mais do que metade do tempo da aula (para
preparação e execução).
4. Recursos
audiovisuais. Vivemos
na era da imagem, e não da palavra. Sem o acompanhamento visual, a
palavra falada perde muito de sua eficácia. É fundamental,
portanto, que saibamos utilizar os diversos recursos audiovisuais
disponíveis a fim de melhorarmos nossa comunicação e nosso ensino.
Esses recursos incluem o simples e velho quadro-negro, cartazes,
retroprojetor e os mais modernos datashows e outros recursos
informático-televisivos.
Sua utilização
deverá variar de acordo com as possibilidades da igreja e em
conformidade com os objetivos educacionais estabelecidos. Não
devemos usar os audiovisuais apenas para deixar a aula mais
interessante. Eles devem estar em sintonia com os objetivos da aula e
com os momentos da prática educacional cristã.
5. Leitura
dirigida. “O método da leitura dirigida consiste em o
professor orientar a aprendizagem do aluno por meio da leitura de
adequada seleção de textos.” (NÉRICI, I.G., apud ZABATIERO,
2009). O hábito da leitura não é muito desenvolvido em nosso país,
e esse é um dos grandes motivos do baixo nível educacional de nossa
população. Na igreja, a leitura é fundamental, pois nossa fé se
alimenta da palavra de Deus – texto que deve ser constantemente
lido e estudado. Os encontros educacionais podem ser um bom
instrumento para o aperfeiçoamento da arte da leitura, não só com
o uso da Bíblia, mas também de revistas didáticas e livros
diversos.
A leitura transcende
a simples identificação de palavras e frases, incluindo a
compreensão do texto escrito em sua totalidade: ideias,
pressupostos, implicações práticas, defeitos etc. A leitura
crítica nos ajuda a superar os limites intelectuais, a falta de
consciência político-social e a ingenuidade teológica. Crescer na
arte de ler é importante para o desenvolvimento espiritual. O
apóstolo Paulo jamais deixou o estudo e a leitura, mesmo na prisão
(2Tm 4.13), pois sabia da necessidade de continuar crescendo na fé.
Encerrando esta
breve discussão sobre métodos de ensino, precisamos lembrar que
educadores não são infalíveis. Também somos discípulos de Jesus
Cristo, temos nossas angústias e limites, nossos saberes e dúvidas.
Existe uma ideia velada, mas difundida, de que professores são
infalíveis e sabem tudo. Não podemos passar essa imagem para nossos
alunos. A autenticidade e a transparência são fundamentais no
trabalho educacional, especialmente no ensino cristão. Sempre que
você experimentar alguma dúvida, angústia ou sensação de limite,
saiba compartilhar esses sentimentos com sua classe, para que você
também seja edificado por seus alunos. Além disso, não há chance
de sermos bons professores se não formos bons aprendizes. Valorize
a dúvida e a curiosidade: são o ponto de partida para o
conhecimento.
(Trecho extraído de ZABATIERO, Júlio. Novos caminhos para a educação cristã. São Paulo: Hagnos, 2009)
Meus parabéns, pelo belo estudo. Rico em conteúdo, profundidade e bem escrito. Deus continue te abençoando.
ResponderExcluirO material é eficaz e objectivo!
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