Um dos elementos mais impressionantes dom poema de louvor de Maria é
a sua abundância de frases e conceitos do Antigo Testamento. Mesmo a
construção de pensamentos ecoa claramente os padrões encontrados
nos salmos hebraicos, e a sua tradução contemporânea grega na
Septuaginta. A emoção de Maria por seu privilégio de “engrandecer”
(glorificar, exaltar) o Senhor é expresso primeiro pelos salmistas.
Eles também exclamam: “Engrandecei ao Senhor comigo e juntos
exaltemos o seu nome” (Sl 34.3), e “Louvarei o nome de
Deus com cântico e engrandece-lo-ei com ações de graças”
(Sl 69.30).
À medida que Maria move-se para dirigir adoração, e louvores a
Deus por atributos específicos (Lc 1:40,50), os paralelos tornam-se
ainda mais admiráveis. Por exemplo, a frase “Porque me fez grandes
coisas o Poderoso” capta o pensamento e a linguagem do Sl 71.19, e
pode refletir a imagem de Deus como um guerreiro/herói visto em
Isaías 42.13, “o Senhor, como poderoso, sairá; e fará grande
ruído, e sujeitará os seus inimigos”.
Um comentarista, examinando o louvor de Maria linha por linha, ligou
os seus pensamentos e termos a cerca de doze diferentes passagens do
Antigo Testamento.
Alguns têm questionado se uma jovem, provavelmente de muito pouca
idade naquela época, poderia ter produzido espontaneamente um poema
de tanta profundidade e tão cheio de alusões bíblicas. Contudo, há
pelo menos duas coisas a serem lembradas. Os judeus no século I
permaneciam, em seus corações, como uma comunidade teocrática. Era
o seu relacionamento com Deus que lhes dava não só a sua identidade
como povo, mas também o fundamento da sua esperança para o futuro.
Eles eram verdadeiramente um “povo do Livro”, e frases e imagens
bíblicas eram tecidas na fala cotidiana. Memorizadas, cantadas e
discutidas na sinagoga todos os sábados.
A segunda coisa a ser lembrada, naturalmente, é que Maria era uma
mulher jovem, que possuía uma profunda fé e inspiração
espiritual. Ela era verdadeiramente uma pessoa excepcional; esta
qualidade pode ser rapidamente percebida ao considerarmos a sua
resposta ao anúncio feito pelo anjo Gabriel (Lc 1.38). Nem toda
mulher jovem na Galileia do século I poderia ter composto o Cântico
de Maria. Mas quando viajou para visitar a sua prima Isabel na região
montanhosa de Judá, uma viagem de cerca de três a quatro dias a pé,
entendemos que ela ponderou sobre a experiência e compôs estas
maravilhosas palavras de louvor.
Que desafio para nós em nossos dias. Se esperamos ser usados por
Deus, não precisamos ser grandes aos olhos do mundo. Mas devemos nos
encher do conhecimento das Escrituras, até que os pensamentos e
conceitos revelados por Deus tornem-se uma parte integral de nossos
corações e mentes também.
Fonte: RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo
Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, 3ª
ed.
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