[R.C.Sproul]
Milhares
de resoluções de “ano novo” já foram feitas e quebradas no que
diz respeito à leitura bíblica. Promessas de ler a Bíblia de capa
a capa são feitas e refeitas. Entretanto, permanece o fato de que a
grande maioria dos cristãos professos nunca leu a Bíblia toda. A
maioria já leu o Novo Testamento, mas poucos completaram o Antigo
Testamento.
Por
que os cristãos se tornaram tão negligentes no que se refere ao
estudo bíblico? Será meramente uma questão de falta de disciplina
ou de devoção? Isto pode ser parte do problema, o que,
consequentemente, produz muita culpa entre os cristãos por deixarem
de fazer o que deveriam estar fazendo. Penso, porém, que mais do que
falta de disciplina, o problema está relacionado com o método de
leitura.
Começamos
nossa leitura bíblica com absoluta determinação e diligentemente
lemos o livro de Gênesis. Gênesis fornece informações importantes
sobre os fundamentos da história bíblica e continua suavemente ao
longo da história dos patriarcas. Até aqui, tudo bem. Êxodo é
cheio de drama, com proezas de Moisés e a libertação de Israel da
tirania dos egípcios. Cecil B. DeMille e Charlton Heston1
deram a muitos de nós um senso da familiaridade com esses eventos.
Na sequência temos levíticos. Aqui o quociente de perda de
interesse começa a aumentar. Muitos que atravessam penosamente a
leitura de Levíticos estão acabados quando chegam a Números. Uns
poucos obstinados chegam até Deuteronômio e os últimos
perseverantes atravessam todo o Antigo Testamento.
Na
realidade, descobri que a maioria das pessoas que conseguem ler os
primeiros cinco livros chega ao final do Antigo Testamento. A maior
parte das pessoas desiste de ler o Antigo Testamento porque atola em
Levítico e Números. As razões são óbvias. Estes livros tratam
detalhadamente de questões de organização de Israel, inclusive
listas extensas de leis casuísticas. Muito deste material é
totalmente alheio a nós e torna a leitura difícil.
No
entanto, a informação contida nestes livros é de importância
crucial para comprendermos o alcance da história da redenção. Uma
compreensão precisa do Novo Testamento depende de nosso conhecimento
desses livros. De fato, uma vez adquirida uma compreensão global do
alcance das Escrituras, descobriremos que Levítico e Números são
fascinantes e deliciosamente interessantes. Mas sem esta compreensão
geral os detalhes parecem não fazer nenhum sentido.
Para
superar os problemas que muitos apresentam na leitura da Bíblia,
sugiro uma rota alternativa para alcançar o objetivo – ler os
livros bíblicos na ordem que se segue:
Gênesis (História
da criação, queda e pacto na história dos patriarcas)
Êxodo (História
da libertação e formação de Israel como povo de Deus)
Josué (História
da conquista militar da terra prometida)
Juízes (História
da transição da federação tribal para a monarquia)
1
Samuel (História do início da monarquia com Samuel, Saul e Davi)
2
Samuel (O reinado de Davi, idade de ouro de Israel)
1
Reis (História de Salomão e a divisão do reino)
2
Reis (História da queda de Israel e o início dos profetas)
Esdras (História
do retorno do exílio)
Neemias (História
da restauração de Jerusalém)
Depois
leia:
Amós
e Oseias (Exemplos de profetas menores)
Jeremias (Exemplo
de profeta maior)
Eclesiastes
e
Cântico
dos
Cânticos (Exemplos
de literatura de sabedoria)
Salmos
e
Provérbios (Exemplos
de poesia hebraica)
Esta
lista de leitura dá um sumário do Antigo Testamento e estabelece a
estrutura para compreendê-lo. É o esqueleto ao qual se pode
acrescentar a carne e os nervos dos outros livros após o término da
leitura do Novo Testamento.
A
seguir temos a lista esboçada para o Novo Testamento:
Evangelho
de Lucas (Vida e ensinos de Jesus)
Atos (História
da igreja primitiva)
1
Coríntios (Introdução ao ensino de Paulo)
1
Pedro (O ensino da vida da igreja)
1
Timóteo (Introdução às epístolas pastorais)
Hebreus (Teologia
de Cristo – Cristologia)
Romanos (Teologia
paulina)
Tal
como no caso do Antigo Testamento, esta relação proporciona uma
familiaridade básica com as diversas partes do Novo Testamento. Após
o término desta leitura, poderemos voltar e preencher o esqueleto.
É
importante compreender a dinâmica da autodisciplina. Autodisciplina
é mais facilmente adquirida quando primeiros nos colocamos sob a
disciplina de outra pessoa. Para completar este programa introdutório
seria sábio pedir a alguém que supervisionasse seu programa de
leitura. Se for possível frequentar um curso ou classe de Escola
Dominical na igreja, isto seria muito útil.
[1] O
autor se refere ao filme “Os Dez Mandamentos” (Paramount,
1956), superprodução dirigida por Cecil B. DeMille (1881-1959) e
estrelada por Charlton Heston.
Fonte: SPROUL, R. C. O conhecimento das Escrituras: Passos para um estudo bíblico sério e eficaz. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. 143 p.
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