Orígenes1, no seu quarto livro, De Principiis, dá-nos algumas sugestões
valiosas sobre como interpretar as Escrituras. Segundo Orígenes, as
Escrituras são semelhantes ao complexo humano, tendo diversos níveis
de significados possíveis.
O
corpo físico
Como o
homem tem um corpo mortal, material, assim as Escrituras, às vezes,
devem ser interpretadas literalmente.
A alma
Como o
homem tem uma alma, assim as Escrituras, às vezes, devem ser
interpretadas moralmente. Isto é, lições morais podem ser
extraídas de passagens que, entendidas literalmente, não tem
significado para nós. Por exemplo, aquelas passagens que descrevem
matanças e brutalidades dificilmente nos podem ensinar alguma coisa
sobre a espiritualidade. Na verdade, são repugnantes para nós. Até
mesmo nesses casos, podemos extrair lições morais importantes.
O
espírito
O homem é
um espírito; assim as Escrituras, às vezes, devem ser interpretadas
espiritualmente, ou misticamente, através de metáforas. Dessa
maneira, verdades podem ser obtidas além do literal ou moral.
Algumas
passagens admitem os três modos de interpretação, mas outras são
limitadas a um ou dois. Segundo
Orígenes, a
forma como lemos as Escrituras Sagradas indica o nosso
estágio de amadurecimento espiritual e nossa capacidade intelectual.
A
verdade como uma aventura
Enquanto
algumas verdades são dadas livremente através da revelação e
podem ser entendidas facilmente, outras, com frequência, exigem
trabalho árduo para que sejam compreendidas. A verdade pode ser como
uma mina de ouro que precisa ser trabalhada. O homem que se esforça
em descobrir a verdade é aquele que recebe a recompensa dos tesouros
de sabedoria e conhecimento. A verdade é uma aventura. Não
devemos ter medo de nos aventurar, porque esta aventura é gloriosa.
Não devemos permitir que os dogmas impeçam a nossa busca.
1 Orígenes de Alexandria (185-254), é considerado, juntamente com Santo Agostinho, o maior gênio do cristianismo antigo. É um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo (vide http://www.filosofia.com.br)
Fonte:
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado: versículo
por versículo: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Volume 1. São
Paulo: Hagnos, 2ª ed,
2001.
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