por Rousas
J. Rushdoony
Para uma
filosofia da educação cristã, é básico que o ensino esteja
baseado em uma sã teologia e doutrina bíblica do homem. Sendo
Cristo o Senhor, o homem não pode sê-lo. A soberania de
Deus exclui a soberania do homem. A soberania de Deus significa
que nossos critérios educacionais devem derivar da Escritura, não
do homem.
Isto
significa, primeiro, que em razão de a Escritura deixar claro que
o homem é uma criatura caída vivendo em um mundo caído,
a educação deve tratar com o fato do pecado. A
educação não é evangelismo: é instrução. Em
todas as áreas da instrução, as pressuposições
se extraem da Escritura, não do homem. Deste modo, na biologia, a
base para a teoria da evolução não está na informação
biológica, mas no esforço do homem para eliminar Deus do universo.
De modo que o que atrai na teoria é religioso, não científico; não
explica de maneira satisfatória nada com respeito ao universo,
porém satisfaz a hostilidade do humanista para com Deus. Uma
filosofia cristã da educação reconhecerá as pressuposições
da educação não cristã e se concentrará em desenvolver
pressuposições bíblicas como a única base sólida para uma
resposta e perspectiva cristãs. Em outras palavras, os homens
pensam e agem em termos do que creem; a fé governa a vida, e as
pressuposições determinam nossas ciências, artes e filosofia.
Segundo:
Isto significa, como se indicou, que existe uma relação necessária
entre a fé e o conhecimento. O que sabemos é produto do que
cremos. O progresso das ciências no ocidente cristão
não é uma casualidade. Somente é possível ciência onde existe
a fé em um Deus cujo conselho de predestinação introduz uma lei e
uma ordem totais no universo. O relativismo faz com que
a ciência seja finalmente impossível; o mesmo sucede com
o politeísmo: não pode existir nenhum universo, apenas um
'multiverso' que não tem nenhuma verdade nem significado comum.
Terceiro:
Ao ensinar é importante ver, portanto, a unidade do ser do homem.
Ele é totalmente uma criatura de Deus, e é uma unidade de fé e
ação. A Bíblia fala do coração ou alma do homem como o centro de
seu ser, como o núcleo de sua consciência,
autoconhecimento e pensamento. Dele emanam os caminhos da vida
(PV. 4:23), quer sejam bons ou maus.
O
paganismo sustenta uma visão dualista do homem, e algumas vezes, uma
visão tripartida. No pensamento grego a mente e o corpo do homem
eram duas substâncias distintas e, portanto, alheias uma da
outra. Assim, a virtude podia restringir-se a uma esfera.
Sócrates poderia seria considerado virtuoso mesmo se fosse
homossexual. Deste modo o conflito do homem era metafísico, antes de
ser moral.
Como o
fundamentalismo possui uma base proveniente das visões dualista e
tripartite, é fácil para ele ser antinominiano. A doutrina
do “crente carnal”, uma visão extremamente perniciosa,
sustenta que o homem pode ser salvo mesmo sem mostrar
frutos de justiça ou do Espírito. O espírito do paganismo
pode ser resumido no provérbio popular: “Não se pode
julgar o coração”. Isto pressupõe que a alma e o corpo do
homem são dois ambientes alheios um do outro. Porém, nosso Senhor
esclarece que o homem se dá a conhecer e há de ser julgado por
seus feitos, assim como uma árvore é conhecida por seus
frutos (Mt. 7:16-20). Se não possuirmos uma visão unificada do
homem, cairemos com facilidade não só nesta doutrina do “crente
carnal” mas também no antinomismo. Este vê na Bíblia dois
planos de salvação, um “progresso” do material ao espiritual,
e da lei para a graça, embora na Escritura a salvação sempre
seja pela graça, sendo o “material” e o “espiritual”
realidades igualmente criadas por Deus, ambas caídas,
e ambas redimidas, e tanto a lei como a graça são básicas ao ser
e ao plano de Deus, de modo que receber a graça é deleitar-se na
lei de Deus.
Quarto:
Nossa perspectiva deve ser determinada pela teologia, não pela
biologia. O homem é produto, não da biologia, mas da palavra
criativa de Deus. Isto significa que a determinação teológica é
anterior à biologia, e que o determinismo biológico não tem
validez.
Assim, a
perspectiva moderna encara a adolescência com sua fase tempestuosa,
tensa, rebelde e pretensamente independente como
realidades biologicamente determinadas e naturais para o
homem. Porém, de fato, a adolescência é um produto cultural, a
marca distintiva de uma cultura decadente, e é quase
desconhecida na história da civilização fora da era
moderna. Na maioria das culturas, o que chamamos
adolescência é mais um tempo de imitação cuidadosa e
atenta dos adultos e da geração mais velha. Os jovens, ingressando
na vida madura e no trabalho, estão preocupados em aproximar-se cada
vez mais do mundo dos adultos e serem aceitos por eles. Em lugar de
rebelar-se contra a geração adulta, os jovens buscam
ingressar e se iniciar no mundo dos adultos. Foi somente
porque o existencialismo coroou o isolamento e a independência
radical que os jovens associam a chegada da maturidade física
com uma declaração de guerra e independência.
Simplesmente estão representando assim o rito necessário de
“confirmação” religiosa do mundo moderno. O jovem
cristão é confirmado na fé de seus pais na medida em que se
aproxima da maturidade; o rito de confirmação do
jovem humanista é a adolescência e sua rebeldia ou
existencialismo.
Da mesma
forma, uma pesquisa de Edward Shorter indica que a masturbação é,
em geral, um fenômeno moderno no homem1.
A masturbação é cada vez mais importante na cultura moderna
devido ao fato de relacionar-se com o desejo existencial do homem de
ser livre de todas as demais pessoas, e deste modo reduzir o
sexo a um ato puramente existencialista de uma só pessoa
que não necessita de ninguém mais. Na medida em que se diminui o
caráter existencialista do homem moderno, assim também sucederá
com sua ênfase nos prazeres egocêntricos em todas e cada uma das
esferas.
Quinto: A
disciplina é fundamental para a educação cristã, porém não se
deve confundi-la com castigo. A raiz do termo disciplina é
discípulo, e o verdadeiro ensino faz da criança um
discípulo feliz e entusiasmado de Cristo, apto para aprender
porque ser capaz e estar completamente empenhado no serviço de Deus
é um aspecto necessário e honroso da vida em aliança. O castigo é
um recurso último, embora necessário. A verdadeira disciplina
é positiva; o castigo é negativo. A disciplina estabelece
metas, padrões, exigências, provas e medidas. A disciplina
cria uma motivação e um relógio internos, de modo que a vida da
criança se torna progressivamente uma vida disciplinada,
e a disciplina se torna uma parte natural da vida da criança, e
isto também de maneira permanente. A disciplina cria uma relação
vital entre a fé e os hábitos, de modo que a fé do
indivíduo se converte em uma fé disposta e ativa.
Sexto, a
educação é, por necessidade, não somente teológica por natureza
mas também teocêntrica. Centra-se em Deus porque Deus,
como Senhor, requer que todas as coisas o sirvam. O Catecismo Menor
de Westminster nos diz que “o fim principal do homem é
glorificar a Deus e gozá-lo eternamente”. Todas as
áreas da vida e pensamento devem estar alinhadas com este
propósito, e especialmente a educação. A educação humanista tem
como fim glorificar o homem e capacitá-lo para que desfrute a si
mesmo; isso é algo que sempre estará fadado ao fracasso. A
educação cristã não pode ser educação secular com um
pouquinho de Bíblia. Não se adiciona a Bíblia a um currículo
pronto; a Bíblia deve estabelecer, governar e condicionar o
currículo, ou não teremos uma educação cristã.
1Edward
Shorter: The Making of the Modern Family, pp. 76, 98-102, 106,
114-116, 251. New York, N.Y.: Basic Books, 1975.
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Fonte: The Philosophy of the Christian Curriculum, p. 162-164.
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