“Justificação pela graça
mediante a fé” é a frase erudita dos teólogos para o que
Chesterton chamou certa vez de “amor selvagem de Deus”. Ele não
é instável nem caprichoso, não conhece épocas de mudança. Deus
tem um único posicionamento inflexível com relação a nós: ele
nos ama. Ele é o único Deus jamais conhecido pelo homem que ama
pecadores. Falsos deuses – criados pelos homens – desprezam os
pecadores, mas o Pai de Jesus ama a todos, não importa o que façam.
Isso é naturalmente incrível demais para aceitar. No entanto, a
afirmação central da Reforma permanece: não por qualquer mérito
nosso, mas pela sua bondade, tivemos nosso relacionamento restaurado
com Deus por meio da vida, da morte e da ressurreição do seu amado
Filho. Essa é a boa-nova, o evangelho da graça.
Com sua característica joie
de vivre, Robert Capon¹
coloca da seguinte forma: “A Reforma foi uma ocasião em que
os homens ficaram cegos, embriagados por descobrir, no porão
empoeirado do medievalismo tardio, uma adega repleta de graça
envelhecida mil e quinhentos anos, com teor alcoólico 100% - garrafa
após garrafa de pura Escritura destilada, um gole da qual bastava
para convencer qualquer um de que Deus nos salva sem precisar de
ajuda. A palavra do evangelho – depois de todos aqueles séculos de
tentar elevar-se ao céu preocupando-se com a perfeição de seus
cadarços – tornou-se repentinamente um anúncio direto de que os
salvos já estavam em casa mesmo antes de começarem (…). A graça
deve ser bebida pura: sem água, sem gelo, e seguramente sem água
tônica; não se permite que nem bondade, nem maldade, nem as flores
que desabrocham na primavera da superespiritualidade entrem no
preparado.”
¹
Robert Farrar CAPON, citado por Brennan Manning, pg.21
(extraído
de Manning, Brennan, O Evangelho Maltrapilho. São
Paulo: Mundo Cristão, 2005)
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