Pré-história
Os
vestígios mais antigos de Israel são aldeias do século XIII a.C.
na região montanhosa da Palestina.
Associações
de clãs tinham colonizado novas regiões, e por isso nomes de
lugares e de tribos podem, por vezes, ser intercambiáveis na Bíblia,
como, p.ex., Belém e Efratá. Também alguns conceitos bíblicos
comprovam que os laços entre clãs permaneciam muito significativos.
Algumas imagens bíblicas, p.ex., apresentam Deus como o “parente”
forte, cujo dever é ajudar.
As
tribos se formaram a partir de grupos de refugiados que se
uniam contra outros grupos que buscavam novas terras. No começo,
essas uniões eram temporárias e emergenciais, formando uma
comunidade que se chamou “povo de Javé” (mais
precisamente “parentela de Javé”) e “Israel”.
No
século X a.C., incursões de filisteus forçaram as tribos a se
organizarem de forma mais permanente, reconhecendo a autoridade de um
rei. Somente então Israel passou a ter contato com a cultura do
antigo oriente, que já possuía escrita. Funcionários públicos
e sacerdotes tornaram-se portadores das tradições escritas.
Os
profetas defenderam o ideal da “parentela de Javé” contra
o Estado. As complicações escritas de suas palavras só apareceram
a partir do momento em que já era possível prever o fim de Israel
como nação.
A
origem das compilações
O
declínio dos reinos de Israel e Judá (respectivamente em 722 e 587
a.C.) impulsionou o registro escrito das tradições orais e a sua
compilação. Os escritos desse povo, que desde então passou a viver
disperso, se tornaram sua pátria espiritual.
Provavelmente
as tradições de Israel teriam se perdido de qualquer forma, não
tivessem os persas conquistado um grande império no qual povos
pequenos, como era o caso de Israel, podiam viver segundo suas
próprias leis. Em 515 a.C., o templo de Jerusalém foi reconstruído.
Os escritos sagrados dos judeus passaram a ser reunidos e guardados
aqui.
Origem
do cânon
Em
398 a.C., o sacerdote Esdras, encarregado pelos persas, levou para
Jerusalém um escrito proveniente das escolas judaicas na Babilônia
e promulgou-a lá como sendo a “lei” dada por Deus a Israel. A
narração deste acontecimento (Neemias 8) é a narrativa da formação
do judaísmo; ela explica porque a escritura sagrada é, para o povo
judeu, a torá, “instrução de vida”.
Logo
se manifestaram opiniões divergentes sobre quais livros pertenciam à
Escritura Sagrada. A versão mais extensa é a tradução grega,
produzida no Egito a partir do século III a.C.
Seu
nome, Septuaginta (latim: “setenta”), se explica por uma
tradição: 72 tradutores chegaram à mesma redação,
independentemente uns dos outros. Isso teria sido como um sinal de
que a tradução tinha sido inspirada por Deus.
O
cânon hebraico dos livros bíblicos, aceito definitivamente
até hoje pelo judaísmo, se formou em Judá. No começo, eram os
sacerdotes do templo que cuidavam das escrituras sagradas. No
entanto, quando a família real dos asmoneus reivindicou para si o
sacerdócio (152 a.C.), o que atentava contra as leis bíblicas, os
essênios e os fariseus se separaram do partido dos sacerdotes do
templo, os saduceus, alegando que seriam mais capazes do que estes
para cuidar dos textos sagrados. Historicamente, impõe-se a doutrina
dos fariseus de que todos os judeus deveriam viver de forma
sacerdotal, por terem sido chamados para guardar a Escritura.
Formação
de um cânon duplo
No
ano 63 a.C., os romanos ocuparam Judá. Levantou-se uma rebelião
contra eles da parte de grupos messiânicos cujo entendimento das
escrituras sagradas os levava a esperar por um novo rei de Judá: o
Messias. Roma pensava que a destruição do foco central do povo
judeu – Jerusalém e o templo – levaria à aniquilação
definitiva deste povo (ano 70).
As
várias correntes judaicas realmente desapareceram; mas o judaísmo
sobreviveu na forma ensinada pelos fariseus, segundo a qual o centro
da vida judaica está nas escrituras e nas ordenanças por elas
ensinadas. A interpretação farisaica das escrituras foi propagada
pelos rabinos (hebraico: “mestre”). No século III, eles
estabeleceram definitivamente a abrangência e a estrutura da Bíblia
judaica.
O
grupo dos discípulos de Jesus, ao qual pertenciam
representantes de várias correntes judaicas, entrementes dera origem
a comunidades cristãs, inicialmente dentro do judaísmo. Porém, já
no fim do primeiro século o cristianismo judaico havia
perdido sua relevância; cristãos gentios, que falavam grego,
determinaram o desenvolvimento posterior da igreja. Por isso, os
conceitos cristãos de língua grega a respeito da abrangência e da
estrutura da Bíblia permaneceram vivos no cristianismo. No século
II, formou-se uma coletânea de escritos cristãos seguindo esse
modelo da Escritura Sagrada herdada do judaísmo; ela tornou-se a
segunda parte da Bíblia cristã, conhecida como “Novo
Testamento”. A primeira parte desta Bíblia se compõe de escritos
sagrados judaicos, conservados integralmente pelo cristianismo na
forma do “Antigo Testamento”, ainda que algumas das regras lá
apresentadas não sejam praticadas pelos cristãos.
É
tarefa da exegese bíblica cristã explicar como também esses textos
são Palavra de Deus para os cristãos.
Fonte:
OHLER,
Annemarie; MENZEL, Tom; LOHNDOF, Jan-martin. Atlas
da Bíblia. São
Paulo: Hagnos, 2013. 495 p.