Uma das
características distintivas da genealogia Jesus, escrita por Mateus,
é a inclusão específica de quatro mulheres – Tamar, Raabe, Rute
e Bate-Seba, mulher de Urias. A pergunta crítica é: Por quê?
A cultura
hebraica era patriarcal, e as genealogias normalmente relacionavam
somente os homens. No entanto, havia duas razões básicas no oriente
para incluir uma mulher ou duas: 1) a mulher era muito admirada, e
sua inclusão ressaltava a reputação da família; 2) o marido tinha
mais de uma esposa e, neste caso, o nome da mulher é basicamente
mencionado com o nome do seu filho. Este costume é frequentemente
seguido no Antigo Testamento quando se mencionam os reis de Israel e
de Judá.
No
entanto, não podemos apelar a nenhum destes costumes para explicar
porque Mateus incluiu as quatro mulheres que ele decidiu mencionar.
Elas não eram admiradas. Tampouco existe qualquer confusão no
Antigo Testamento a respeito de quem eram seus filhos. Assim, somos
levados a procurar alguma outra razão para o fato de Mateus
mencionar estas quatro mulheres em particular.
A
elucidação depende do que sabemos sobre elas. Tamar, uma mulher de
Canaã, seduziu o sogro que lhe tinha prejudicado, e deu a ele dois
filhos (Gn 38). Raabe, também de Canaã, ganhava a vida como uma
prostituta antes de dedicar a sua lealdade ao Senhor e ajudar os
espias israelitas a escapar de Jericó (Js 2.6). Rute, embora pura
moralmente, era moabita, raça cuja origem deu-se a partir de um
incesto (Gn 19:30-37) e que, de acordo com Deuteronômio 23.3, tinha
a entrada proibida na congregação do Senhor. Bate-Seba é mais
conhecida pelo seu adultério (forçado?) com Davi. Embora nascida em
uma família judia (1Cr 3.5), ela pode ter sido classificada coo uma
heteia devido ao seu casamento com o heteu Urias (2Sm 11.3; 23.39).
As quatro
mulheres parecem ter duas coisas em comum. Elas eram moralmente
corrompidas e estavam excluídas da comunidade da aliança do Antigo
Testamento, não tendo nenhum direito nativo de reivindicar uma vida
com Deus, nem de esperar que Ele lidasse com elas em Sua graça.
Então, o que levou Mateus a incluir estas quatro mulheres na
linhagem de Jesus, o Messias?
Umas das
possibilidades é que, como coletor de impostos, encarado com
desprezo por seus vizinhos, Mateus sabia o que significava ser um
pecador e depois um redimido. Mateus identificava-se com estas quatro
mulheres e as inclui como exemplos do poder transformador de Deus,
que agora enviou o Messias para “salvar o seu povo dos seus
pecados” (1.21).
Uma outra
possibilidade é que Mateus poderia estar pensando na universalidade
da missão de Jesus. O concerto de Deus com Abraão incluía a
promessa: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”
(Gn 12.3). As quatro mulheres demonstram o compromisso definitivo no
convite do evangelho cristão para que todos creiam em Jesus e sejam
salvos.
Uma
terceira possibilidade é que Mateus esteja sutilmente lembrando os
seus leitores, que procuravam por um Messias que apareceria em glória
e poder, que a história mostra que Deus trabalha de maneiras
estranhas e misteriosas. Não podemos dizer como Deus agirá, ou como
deve agir. Tudo o que podemos fazer é reconhecer a sua criação e
adorá-lo.
Não
existe razão para descartar nenhuma das interpretações acima. Na
verdade, elas se combinam de uma maneira maravilhosa. Nosso Deus é o
Deus do inesperado. Ele permanece preocupado com aqueles “excluídos”,
tanto quanto com você e eu. Como cada uma das quatro mulheres
exemplificam, Deus alcança o pecador com graça e, por seu poder
transformador, purifica pecadores e os torna membros vitais e
contribuintes da comunidade de fé.
Fonte: RICHARDS,
Lawrence O. Comentário Histórico Cultural do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2008. 3ª
ed.
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