“E
tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o
nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe
foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as
quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e
inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua
própria perdição.”
(2 Pedro 3:15-16)
[…] Ele [Pedro] menciona Paulo
como alguém que tinha recebido uma medida extraordinária de
sabedoria. Ele era uma pessoa de conhecimento eminente acerca dos
mistérios do evangelho, e nem nessa nem em outra qualificação
ficava aquém de nenhum dos outros apóstolos. Como é desejável
que os que pregam o mesmo evangelho tratem uns aos outros de acordo
com o padrão que Pedro estabelece aqui. Certamente é seu dever
esforçar-se, pelos métodos adequados, para evitar ou remover todos
os preconceitos que atrapalham a utilidade dos ministros, e gerar e
melhorar a estima e o respeito na mente das pessoas com relação aos
seus ministros que podem promover o sucessos dos seus esforços. E
também observemos:
[1] A sabedoria excelente que
havia em Paulo é descrita como a “... que lhe foi dada”.
A compreensão e o conhecimento que qualificam os homens a pregar o
evangelho são dons de Deus. Precisamos buscar o conhecimento e
empenhar-nos para obter a compreensão, na esperança que nos sejam
dados do alto, enquanto somos diligentes em usar os meios apropriados
para obtê-los.
[2] O apóstolo compartilha com
os homens de acordo com o que ele tinha recebido de Deus. Ele se
empenha para conduzir outros ao ponto ao qual ele mesmo foi conduzido
no conhecimento dos mistérios do evangelho. Ele não é um
intrometido nas coisas que não viu ou em que não foi confirmado, e,
mesmo assim, ele não deixa de anunciar todo o desígnio de Deus (At
20.27).
[3] As epístolas que foram
escritas pelo apóstolo dos gentios e dirigidas aos gentios que
creram em Cristo são designadas para a instrução e edificação
daqueles que dentre os judeus foram levados a crer em Cristo, pois em
geral se pensa que o assunto ao qual o apóstolo alude aqui está
contida na epístola aos Romanos (2.4), embora em todas as epístolas
haja algumas coisas que se referem a um ou outro tópico tratado
nesse ou no capítulo anterior. E não pode parecer estranho que os
que estavam seguindo o mesmo propósito em suas epístolas
insistissem nas mesmas coisas. Mas o apóstolo Pedro diz que nessas
coisas que encontramos nas epístolas de Paulo há alguns “...pontos
difíceis de entender”. Entre os muitos tópicos tratados nas
Escrituras, alguns não são fáceis de entender em virtude de sua
própria obscuridade – tais são as profecias. Outras não podem
ser facilmente compreendidas em virtude de sua excelência ou
sublimidade, como as doutrinas misteriosas. E outras são
compreendidas com dificuldade em virtude da fraqueza da mente humana
– tais são as coisas do Espírito de Deus, mencionadas em 1
Coríntios 2:14. E aqui os instáveis e iletrados fazem um trabalho
desprezível, pois torcem e torturam as Escrituras para fazê-las
dizer o que não estava na mente do Espírito Santo. Aqueles
que não são bem instruídos e bem firmados na verdade estão em
grande perigo de perverter a palavra de Deus. Os que
ouviram e aprenderam do Pai estão mais protegidos de mal-entendidos
e de aplicações errôneas de qualquer parte da palavra de Deus.
E, sempre que há o poder divino tanto para firmar como para instruir
os homens na verdade divina, as pessoas são de fato protegidas de
cair em enganos.
Que grande benção aprendermos
com a observação da consequência perniciosa dos enganos em que
caem homens ignorantes e instáveis – sendo até mesmo levados à
sua própria destruição. Erros particularmente concernentes à
santidade e justiça de Deus são ruína total de multidões de
homens.
Portanto, oremos fervorosamente
para que o Espírito de Deus nos instrua na verdade, para que a
conheçamos como ela está em Jesus, e o nosso coração seja
estabelecido com a graça, para que sejamos firmes e inabaláveis,
até mesmo nos tempos mais tempestuosos, quando outros são lançados
para cá e para lá por todo o tipo de doutrina.
(extraído de HENRY, Mattew.
Comentário Bíblico Novo Testamento – Atos a Apocalipse.
Rio de Janeiro: CPAD, 2008, 1ª
ed.)