[Richard Baxter]
O
orgulho é um pecado que tem interesse demasiado naquilo que temos de
melhor, e mais odiento e indesculpável em nós mesmos do que em
outros homens. No entanto, prevalece de tal maneira, que condena
nossos sermões, escolhe nossa companhia, molda nosso semblante,
coloca enunciação e ênfase em nossas palavras. Enche a mente das
pessoas com desejos e aspirações e domina a alma com pensamentos
invejosos e amargurados. Lança-as contra os que permanecem na sua
luz ou contra quem quer que possa eclipsar o brilho de sua própria
reputação! Que companheiro constante, que comandante tirano, que
inimigo sutil e surpreendente é o pecado do orgulho! Acompanha os
homens à loja, ao armazém e ao alfaiate: escolhe o tecido de suas
roupas, enfeites e moda. Sem o domínio de tal tirano vício, haveria
menos pastores a se ocupar primariamente com cabelos e vestes
enfeitadas.
Quisera
isto fosse tudo, ou o pior de tudo. Infelizmente o orgulho, muitas
vezes, acompanha também o nosso preparo do sermão e assenta-se
conosco para o estudo! Muitas vezes, ele escolhe o assunto
para nossa pregação e, até mesmo, nossas palavras e rebusques!
Deus ordena que sejamos tão simples como for possível a fim de
esclarecer os ignorantes, e tão convincentes e sérios como for
possível para abrandar e transformar os corações endurecidos. Mas
o orgulho se opõe e contradiz a todos, produzindo chocarrices e
frivolidades. Polui em vez de polir. Sob pretexto de louváveis
ornamentos, desonra nossos sermões com penduricalhos infantis, tal
como um príncipe em trajes de ator ou um palhaço de circo. O
orgulho nos persuade a pintar a janela com cores fortes que só faz
enfraquecer a luz. Induz-nos a falar com o povo sobre coisas que
embotam o entendimento, mas que só revelam que somos capazes de
falar coisas sem nenhum proveito. Ainda que o texto escolhido seja
claro e penetrante, o orgulho tira o fio da espada. Sob pretexto de
evitar rudez e superfluidade, muitos tornam a pregação maçante e
entorpecem uma mensagem que poderia ser vívida.
Especialmente
quando Deus nos encarregou de tratar com os homens como se fôssemos
responsáveis pela vida deles, e a instar com eles com toda
sinceridade possível, tal pecado poderá obter controle e condenar
os mais santos mandamentos de Deus. O orgulho nos dirá: "O
quê! Quer que as pessoas pensem que você tem a mente fechada? Quer
que digam que você está irado ou irascível? Não poderia falar de
maneira mais leve e amigável?".
Assim, o orgulho faz o
sermão de muitos pregadores.
E aquilo que o orgulho faz o diabo faz. Podemos imaginar que tipo de
sermões o diabo elabora, e com que fim! Ainda que o assunto verse
sobre Deus, se as vestes, as maneiras e a finalidade forem propostas
pelo diabo, não poderemos esperar senão a derrota.
Fonte: BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008