[Santo Agostinho]
“Deus, criador de todas as coisas, concedei-me primeiramente que eu
faça uma boa oração; em seguida, que me torne digno de ser ouvido
por ti; por fim, que me atendas. […] Deus, Pai da verdade, Pai da
sabedoria, Pai da verdadeira e suprema vida, Pai da felicidade, Pai
do que é bom e belo, Pai da luz inteligível, Pai de nosso desvelo e
iluminação, Pai da garantia pelo qual somos aconselhados a retornar
a ti. Eu te invoco, Deus Verdade, em quem, por quem e mediante quem é
verdadeiro tudo o que é verdadeiro. Deus Sabedoria, em quem, por
quem e mediante quem têm sabedoria todos os que sabem. […] Deus,
cuno reino é o mundo inteiro, a quem o sentido não percebe. […]
Deus, de que, separar-se significa cair, a quem retornar significa
levantar-se, em quem permanecer significa ser firme. Deus, de quem
afastar-se é morrer, ao qual voltar é reviver, em quem habitar é
viver. Deus, a quem ninguém deixa senão enganado, a quem ninguém
busca senão estimulado a isso, a quem ninguém encontra senão
purificado. Deus, a quem abandonar é o mesmo que perecer, a quem
acatar é o mesmo que amar, a quem ver é o mesmo que possuir. Deus,
a quem a fé nos estimula, a esperança nos eleva, o amor nos une.
[…] Amo somente a ti, sigo somente a ti, busco somente a ti; estou
disposto a servir somente a ti e desejo estar sob a tua jurisdição,
porque somente tu governas com justiça. […] Afasta de mim a
ignorância para que eu te reconheça. Dize-me para onde devo
voltar-me para ver-te e espero fazer tudo o que mandares. […] Faze,
Pai, que eu te procure, mas livra-me do erro. Nenhuma outra coisa,
além de ti, se apresente a mim, que te estou procurando. Se nada
mais desejo senão a ti, Pai, então eu te encontro logo. Mas se
houver em mim desejo de algo supérfluo, limpa-me dele e torna-me
apto a ver-te.”
(AGOSTINHO, Comentário da primeira epístola de São João)